Eu Li: Uma História de Amor e TOC (OCD Love Story)

Recebi este livro de surpresa da Galera Record assim que ele foi lançado. Apesar de ter ficado interessada imediatamente – o nome e a capa chamaram minha atenção – acabei deixando o livro na estante até surgir uma brecha no cronograma para conseguir lê-lo. Comecei a leitura daquele modo que gosto de fazer: sem ter lido nada sobre o livro e agora, pouco depois de terminar a leitura, posso dizer que se tornou uma das minhas histórias favoritas do gênero este ano.
Tenho um talento especial para dizer verdades terríveis para estranhos.
A história é narrada por nossa protagonista Bea. Ela está no fim do Ensino Médio e poderia ser apenas uma adolescente comum enfrentando os percalços da vida escolar, mas Bea faz tratamento terapêutico há algum tempo. Como Bea a é narradora da história, ela meio que esconde o motivo de fazer terapia porque aparentemente é por um motivo que ela não se orgulha, mas nós não sabemos o que a levou até o consultório da dra. Pat. Bea tem uma melhor amiga com quem ela consegue dividir as maiores neuras de sua vida, Lisha e embora Lisha não saiba como é ter uma cabeça tão complicada, sempre foi uma boa amiga. Bea até que não reclama de ter que fazer terapia, mas as coisas começam a mudar quando a dra. Pat a avisa de que ela está encaixada num caso de TOC e para melhor tratamento terá que participar de sessões em grupo com outros adolescentes com o mesmo tipo de problema. A principio Bea fica um pouco irritada por ser diagnosticada com TOC – algo que ela considera terrível, mas acaba aceitando participar das sessões. Juntando a isso, tem o novo garoto que ela conheceu, Beck, que ela acaba encontrando justamente lá, na sessão terapêutica de grupo. Então o livro é realmente uma história de amor e toc, - com foco no toc!
Eu só estava tentando quebrar o clima pós-terapia com um pouco da minha clássica autodepreciação, mas talvez Beck não seja fluente em sarcasmo.
— Suas calças não cabem - digo. E logo em seguida percebo que sou uma idiota. — Nem sua camisa. - Eu juro, se conseguisse me controlar e não dizer essas coisas, eu o faria. Mas se não disser as coisas que surgem na minha cabeça, elas poderiam comer minhas entranhas ou eu seria condenada ao inferno por desonestidade, então não posso mesmo correr o risco. 
A trama segue Bea em suas sessões e em sua vida, tentando lidar com seu recém descoberto TOC enquanto lida com toda a novidade desse novo interesse em Beck. Beck é um personagem muito fofo - que tem um toc preocupante. Adoro como os dois são tão complicados psicologicamente, mas ajudam um ao outro na aceitação e superação de seus problemas. Tem algumas passagens entre eles tão sensíveis no auge de algum ataque de ansiedade que eu realmente me emocionava. 
Acho que estou prestes a me apaixonar por Beck, e isso está me deixando mais louca do que já sou. Só tenho certeza de duas coisas: gosto de Beck e, provavelmente por causa disso, estragarei tudo de algum jeito horroroso.
#quemnunca
UHA e Toc é uma leitura intensa, dolorosa, por assim dizer. Não estou escrevendo isso para desanimar a leitura, mas deixo aqui este aviso para que você saiba o tipo de leitura dessa que encontrará nesta trama. Sei que olhando a capa e o nome você pode pensar que é apenas mais uma trama YA sobre paixão juvenil, mas você está enganado. Esse livro vai um nível além e o que você encontra é uma trama extremamente verossímil sobre uma pessoa com problemas psicológicos. Isso me deixou muito feliz (#paradoxo) porque acho que a autora foi de uma enorme sensibilidade pra escrever sobre o assunto (em 1ª pessoa) e fez uma boa pesquisa para tratar a doença de uma forma tão intensa. Na verdade, enquanto lia, me via tão envolvida na situação que considerei seriamente ir voltar para terapia. Talvez porque eu não seja ré primária nesses assuntos, talvez porque a autora fez um trabalho tão bom que a gente começa a questionar a própria sanidade (rs), acho que a trama me envolveu tanto que realmente mexeu com meu psicológico já remexido.

O que quero dizer nesta resenha é que a leitura não fica mais fácil quando você está na cabeça de alguém que sofre com problemas psicológicos. Eu nunca havia pensado no TOC em circunstâncias tão drásticas como a que encontrei no livro e ler sobre isso me deixou bem abalada. Geralmente a gente pensa em toc como: ah, ele não pisa nas linhas de um calçamento, ele só come massa as sextas e a verdade é que essa doença vai muito além dessas coisas que costumamos pensar e nesse livro a autora fez questão de mostrar isso. Então sim, Bea estava certa ao ficar preocupada com o diagnóstico porque, sim, é terrível.

Ao longo da leitura acompanhamos Bea chegar ao fundo do poço em suas compulsões e essas partes são especialmente enervantes. Gostei muito da figura da dra. Pat porque a achei tão realista enquanto psiquiatra/terapeuta que imaginei que Corey Ann teve alguma consultoria no assunto (e ela me lembrou uma psiquiatra que tive e era maravilhosa ). A melhor amiga de Bea também foi muito bem retratada porque eu meio que já me senti nas duas situações (a pessoa louca e a pessoa sã de uma friendship) e a achei muito real. Quer dizer, quando envolve o psicológico, as relações são realmente complexas...
Terapeutas são complicados. Fazem ligações entre qualquer coisa, Quando comecei a ver a dra. Pat, tentava falar sobre assuntos casuais, mas ela nunca me deixava apenas ter uma conversa normal. Uma vez disse a ela que gosto de picles no sanduíche. Ela me lembrou que mencionei que Kurt comia muito picles e perguntou o que eu achava que poderia significar.
Sei como é.
Irritante quando eles revertem a questão para 'o que VOCÊ acha que significa?' ¬¬'
Achei o livro SENSACIONAL (em caixa alta) e não sei dizer bem se é porque achei toda a trama muito próxima a mim e essa identificação me fez gostar ainda mais de como a autora tratou o assunto. Demorei cerca de 2 semanas para concluir a leitura – não porque a leitura foi arrastada, mas porque fiquei dias sem conseguir ler por conta de problemas pessoais. É livro extremamente denso e que me fez pensar e refletir muito sobre algumas situações. Indico muito a leitura e já aviso que é um livro sobre loucura! Eu sou bem maluca, então essa identificação tornou tudo melhor, mas acredito que se você gosta de tramas interessantes e que criam conexão, esse livro é uma ótima pedida - mas mantenha seus remédios em dia, para não surtar.
Ela é uma bêbada agressiva. Notei isso nas pessoas: beber lhes dá permissão para ser a pessoa que sempre quiseram ser, em vez de a pessoa que realmente são.
O livro termina de um jeito bem inspirador, aquele tipo de fim que você sabe que não deixa tudo no nível do 'felizes para sempre' mas que te da uma dose de esperança quanto ao futuro dos personagens e aí só resta torcer para tudo ficar bem encaminhado como deveria. Confesso que eu já estava tão inserida naquele universo que eu bem gostaria de mais detalhes sobre o que aconteceu depois, mas acho que foi um final justo e fiquei satisfeita com o que minha imaginação usou como conclusão.

Não conhecia Corey Ann Haydu – este foi o primeiro livro publicado por ela – mas depois dessa leitura, posso dizer que adorei o estilo de escrita da autora e mal posso esperar para ler outros livros dela. Ela tem mais dois livros lançados e previsão de mais um para este ano ainda. Espero que a Galera compre outros títulos dela porque, definitivamente, essa mulher tem talento para escrever algo profundo sob uma camada de despretensiosidade.