Eu Li: Geekerela (Geekerella)

Resolvi ler Geekerela por conta da capa fofa de recomendações de amigos e por acreditar que um livro YA que reconta o clássico de Cinderela só poderia ser legal, não é mesmo? Pois bem, li o livro depois de um livro muito tenso e eu estava mesmo precisando de uma leitura leve e divertida pra passar os dias e bem, encontrei isso na trama de Ashley Poston - embora eu também estivesse numa fase muito questionadora e acabei problematizando tudo, ou seja, de nada adianta o livro ser leve se a gente começa a ver tudo com olhos muito analíticos. Pois bem, vamos começar essa resenha sem spoilers que eu explico!

Geekerela é a historia de Elle Wittimer. E também de Darien Freeman. Elle é uma adolescente órfã (obvio, né) que vive com a madrasta e suas duas filhas, as terríveis gêmeas-do-mal. As quatro vivem na casa que era dos pais de Ella e ela se sente no dever de zelar pela casa, afinal é tudo que ela tem, a unica ligação com o pai e a mãe, então faz tudo que a madrasta pede: limpar, arrumar, lavar, passar, fazer comida... Darien é um jovem ator que alcançou a fama após estrelar uma série de sucesso entre as adolescentes - e também algumas fotos polemicas e problemas com a mídia - e agora está prestes a participar do remake nas telonas de uma série de ficção cientifica sucesso, a qual ele sempre foi muito fã, então está empolgado com a oportunidade. Acontece que Elle, de férias de verão, trabalhando num food truck vegano chamado Abóbora Mágica (sim!), e tendo que fazer todas as tarefas da casa, sempre foi a maior fã do tal seriado, Starfield, e fica #chatiada quando é divulgado que Darien, o astro teen do tanquinho, dará vida ao protagonista. Ela não aceita que vão fazer um remake da serie que ela aprendeu a amar com seu falecido pai e chamaram Darien para o papel mais importante! Como essa é uma releitura atual, Elle tem um blog onde fala sobre Starfield e faz um post desabafo sobre a escalação de Darien e (claro) esse post acaba viralizando.

Apesar de não concordar com Darien no elenco (porque ela simplesmente não o acha bom o suficiente para encarnar o príncipe da federação), ela fica sabendo de uma promoção que acontecerá numa feira geek famosa, a Excelsicon (que é tipo uma Comic Con) e decide participar desse concurso para tentar ganhar o premio principal, que ela acredita que pode ajudá-la a se livrar do domínio da madrasta. Ela não sabe bem como vai arrumar a fantasia, os ingressos, o trasporte, mas decide tentar e como esse livro é uma releitura de Cinderela, ela acaba recedo ajuda de  uma fada madrinha embora ela tenha cabelos verdes, piercings e saias rodadas, e acho que a personagem que representa a fada é uma das que mais gosto da trama! 
Hera veste a vida como Elvis usava lantejoulas: com atitude e segurança.
o livro é cheio dessas referências 
maravilhosas ♥
Eu vou parar de falar sobre a trama em si porque apesar de ser uma versão de Cinderela, as situações são bem originais (embora haja essa ligação) e não quero que você descubra nada além. Eu li sem saber nada e é bom acompanhar as reviravoltas conforme elas aparecem. E vou começar minha analise a partir deste ponto: gostei muito que esta é uma releitura que contém MUITA coisa da base Cinderela, mas ao mesmo tempo as situações apresentadas são diferentes justamente por se passar nesse mundo jovem, de fãs. É legal porque a gente não espera por uma cena especifica, mas depois que acontece a gente para e pensa 'ei, isso é aquela cena clássica!' e eu fiquei realmente impressionada pela Ashley ter conseguido fazer algo assim. A releitura que mais tive acesso de Cinderela foram os filmes de 'Nova Cinderela' da Disney (a mãe da animação clássica) e achei que no livro, a autora conseguiu usar muitos elementos de base Cinderela (mais do que nos filmes até), mas com situações totalmente diferentes.

Gostei bastante dessa releitura, mas também tive alguns problemas... Vou escrever aqui porque esta é minha resenha, mas falei com alguns amigos sobre e a maioria me achou implicante! Mas é justamente quando estou implicante com uma leitura que eu preciso explanar meu ponto de vista! Primeiramente (haha), eu realmente não consegui entender porque Ella é tão passiva em relação a madrasta... Quer dizer, na história clássica até faz algum sentido porque se passa antigamente, mas em plenos 2017, achei que ela deixa a madrasta interferir demais. Na verdade, esse é um ponto que só da pra entender lendo, porque você precisa ver a relação das duas, mas deixo aqui o aviso pra você ler com atenção pra depois me contar se concorda. Existe todo o ponto de ser menor de idade e depender da moradia com a madrasta porque a coitada não tem mais ninguém (isso é sempre tão triste), mas tem um acontecimento no livro que poderia ter mudado isso e Ella parece que demora a tomar uma atitude...
Mas meu pai sempre acreditou que precisamos ajudar os outros acima de tudo. É preciso ser gentil e fazer as coisas de coração.
Talvez essa seja a explicação de porquê
ela aceita tantos absurdos...
Minha outra questão (vou citar só essas, porque eu arranjei várias) é que não consegui gostar muito do Darien. O livro é narrado por Ella e Darien, com  capítulos intercalados, mas alguns pensamentos de Darien me deixaram meio incomodada. Quero dizer, Ella, apesar de eu não concordar com algumas atitudes (ou melhor, falta de) é uma personagem que você acaba solidarizando, sente aquela empatia, mas com o Darien, como ator-tanquinho, eu não consegui sentir essa proximidade, sabe? Eu tentei, mas achei que muitas vezes ele parece ser estrelinha. O cara é um ator na melhor fase (sendo tão jovem) e parece sempre meio mal agradecido... Mas isso é uma opinião que eu tenho Ella ao meu lado porque ela fala isso pra ele. E a verdade é que depois que eles se conhecem e passam a ter 'cenas juntos' achei que Darien melhorou bastante na personalidade!
É mais fácil sermos quem queremos ser quando não estamos tentando ser quem todo mundo pensa que somos.
bons conselhos...
Então eu recomendo mesmo que você leia o livro! Eu estava nessa fase muito analítica (vim de uma leitura que fez isso!) e acabei problematizando demais, mas acho ótimo quando um livro que nem tem esse tipo de pretensão nos faz pensar. E eu super recomendo leituras que fazem refletir! Apesar das minhas ressalvas, a trama é muito fácil de ler - mesmo as partes do Darien, rs - e é um livro bem legal pra quem gosta de releituras ou sabe o que é ser muito fã de alguma coisa. Starfield nem existe mas é fácil criar identificação porque quem é fã, sabe como é! Se você gosta de livros YA também vale a leitura.

E se você ler e problematizar tudo, não se sinta só! Vem aqui conversar comigo!

Eu Li: Até que a Culpa nos Separe (Truly Madly Guilty)

Quando a Intrínseca anunciou que lançaria o livro mais recente de Liane Moriarty por aqui eu fiquei esperando ansiosa. Liane, junto com Jojo e Gillian, é uma das minhas escritoras favoritas atualmente, e está neste seleto grupo (deixa eu fazer um drama) de escritoras que eu quero ler tudo que escreve. Eu já esperava gostar do livro porque Liane nunca me decepcionou, então eu nem vou fazer suspense, porque simplesmente não teria como o resultado ser outro. Pode ler a resenha porque não tem spoilers!

Neste livro conhecemos a trama de Erika e Clementine. O livro é narrado em terceira pessoa, focando ora Erika, ora Clementine. Devo logo começar dizendo que eu amo quando um livro é em terceira pessoa e eu não sinto isso - quem me conhece sabe o que acho do assunto, eu sempre comento aqui - e eu tive até que pegar o livro pra ver enquanto escrevo essa resenha, porque eu me senti tão próxima das personagens, que estava pensando que ele era em primeira pessoa! O livro começa com Erika indo a uma palestra de Clementine e a gente logo percebe que a amizade das duas tem alguma coisa que não é normal. As duas são amigas desde a infância, mas parece que há algo no decorrer desta amizade que faz com que elas não sejam tão amigas assim. 
Ela sempre entrava em pânico quando tinha um teste pela frente, passando a duvidar de si mesma de repente. Erika não imaginava como seria ter um trabalho em que a própria pessoa duvidava da sua capacidade de realizá-lo. No mundo de Erika, ou você era qualificado para um emprego ou não era.
Ah, Erika, tão preto no branco....
Eu SUPER me identifico
com Clementine....
Erika é contadora e casada com Oliver e os dois são o par perfeito. Erika é compulsiva com limpeza e muito metódica e Oliver compreende muito bem esse lado da esposa e isso não parece um problema no casamento deles. Ele a compreende melhor do que ninguém e os dois tem muito em comum. Mas será que todos os casamentos são apenas o que parecem aos olhos alheios? Já Clementine é violoncelist, casada com Sam e tem duas filhas pequenas, Holly e Ruby. Ao contrário da amiga, Clementine é bem desorganizada! Ela e Sam tem muitas preocupações com a hipoteca, as crianças, os empregos e isso obviamente sugere uma dinâmica familiar diferente. Mas algo aconteceu entre as Erika e Clementine, que mantém a amizade, mas não parecem se gostar tanto assim.
Ela sempre me pergunta se eu emagreci, que é o jeito passivo-agressivo de me dizer que preciso emagrecer.
Como boa contadora de histórias que é, Liane não revela tudo assim de cara, de modo que a gente vai descobrindo aos poucos o que aconteceu entre as duas que deixou a amizade tão estremecida, tão cheia de contrastes. O livro se passa no presente, onde vemos que esta amizade estranha está estremecida e também no dia do churrasco. Era um domingo comum e Erika e Clementine foram convidadas para um churrasco na casa do vizinho de Erika, Vid. As duas famílias vão passar a tarde na casa de Vid e Tiffany para um churrasco e é neste churrasco que as coisas acontecem e mudam, ou melhor, expõem ainda mais os problemas nessa estranha amizade entre Erika e Clementine.
[...] vivia lembrando a Clementine aquela frase de Gore Vidal: Sempre que um amigo triunfa, eu morro um pouco.
#ui
Vid é um dos pontos altos do livro, ele e a esposa Tiffany são ótimos, mesmo com todo o mistério envolvendo o acontecimento na casa deles, são personagens bem carismáticos. A forma que a trama vai sendo construída também é um dos pontos altos porque a todo capitulo a gente descobre algo que vai ajudado a montar a trama e essa descoberta aos poucos é maravilhosa - da uma leve angustia, mas a expectativa é boa, neste caso. Eu estava muito empolgada enquanto lia e gosto muito desse estilo de narrativa, quando parecemos tatear no escuro - temos informações, mas não completas - e a tensão vai ficando maior a cada capitulo! quando mais perto eu chegava de descobrir o que tinha acontecido no tal churrasco, mais ansiosa eu ficava e quando veio a revelação eu fiquei bem surpresa. Talvez eu tenha imaginado algo do tipo, mas a forma que é contado, e principalmente, saber como o acontecido afetou a vida de todos eles - que é o que vamos lendo durante todo o livro - realmente nos faz pensar sobre como a culpa pode comandar relações e deixá-las quase insustentáveis.
Francamente, já estava cansado. Gostava bastante de todos ali, mas socializar exigia um esforço mental e físico que o deixava exausto e sem energia.
exatamente o que penso, as vezes....
Eu gosto muito que Liane sempre tem personagens mulheres que são reais. Quer dizer, graças aos céus, eu não passo por nada parecido, mas as protagonistas dela sempre são mulheres com histórias palpáveis e que tentam seguir a vida, não importa o que tenha acontecido a elas. Não só o acontecimento do churrasco como tudo que os personagens vivem e contam no decorrer da trama são coisas que nos fazem pensar sobre como cada ação nossa tem uma reação (sim, é clichê, mas é verdade) e eu gosto muito de como Liane desenvolve as relações a partir de cada acontecimento - neste livro, até os que começaram na infância. É muito interessante ver como algumas coisas antigas podem  permanecer e afetar nossas vidas até o fim e as vezes a gente nem se da conta - até algo acontecer!

Mesmo que você seja bom em investigações e descubra antes da revelação o que aconteceu (é improvável, mas existem Xeroque Rolmes, por ai), o mais importante é ver como esse acontecimento  - no dia do churrasco - expôs todos os pontos fracos da relação das amigas, dos casais e de todos que participaram do fatídico dia do churrasco. É um livro gostoso de ler, mesmo sendo bem grande e em terceira pessoa a trama é muito bem escrita e não fica cansativo acompanhar, pelo contrário. Se você já leu algo de Moriarty, sabe do que estou falando e com certeza não vai se arrepender de ler Até que a Culpa nos Separe. Se você não conhece, eu recomendo que você vá comprar um livro dela e ler porque ela sabe contar uma trama de mistério com tensão da melhor forma!

Sou fã mesmo! Se quiser conferir resenhas de O Segredo do Meu Marido e Pequenas Grandes Mentiras (sim, a série da HBO) é só clicar nos nomes.