O Circo da Noite é o livro de estreia da americana Erin Morgenstern. A proposta da trama é intrigante, e acredito que a autora foi além de criativa, ousada ao conceber algo tão peculiar. A narrativa da trama é predominantemente em 3ª pessoa com alguns trechinhos narrados em 2ª pessoa - e que você só entende o porquê disso ao final do livro (e acredite, é lindo). Eu geralmente nem gosto de narrativas em 2ª pessoa, mas nesse caso, ela não chega a ser invasiva e como tem um significado ao final, achei bem pensada!
O livro conta a historia da criação de um circo nada convencional do tradicional no fim do século XIX e vamos acompanhando a trajetória desse circo e seus envolvidos por mais de uma década. Mas acontece que esse circo é bem mais que o plano ambicioso de alguém em criar algo nunca visto antes...
É muito interessante porque nós acompanhamos duas histórias distintas (que se passam em épocas diferentes) mas que se conectam em algum momento. O livro se passa num período longo de anos, que são bem marcados e é importante se atentar a isso para fazer a conexão conforme vamos nos aprofundando na historia. Se eu usasse adjetivos para descrever o livro, diria que ele é lúdico, mágico, encantador. Sabe quando você precisa explorar os limites da imaginação para acreditar em algo? É o que acontece no circo!
– Por que não me perguntou como eu faço os meus truques? - indaga Celia no momento em que eles atingem um ponto em que ela tem certeza de que ele não está sendo apenas educado a respeito da questão.
Friedrick pondera sobre a pergunta antes de responder.
– Porque não quero saber - diz afinal – Prefiro continuar sem esclarecimentos, para melhor apreciar a penumbra
No contexto pré-criação do circo, conhecemos dois jovens: Célia e Marco. Ela filha de um reconhecido mágico, ele um ex-órfão tirado de um orfanato por um misterioso senhor que o ensina sobre manipulações e ilusões. Os dois foram marcados desde cedo com o proposito de duelarem num desafio que as regras não são claras e eles não sabem como, quando e onde isso irá acontecer. Eles também não conhecem quem será seu oponente.
O inicio nos deixa curiosos em relação ao que está se formando, o que irá acontecer, mas eu estava lendo bem devagar. Mas isso foi mudando ao final da parte II. A partir da parte III, fica praticamente impossível largar o livro porque todos os acontecimentos (e isso desde o inicio do livro) estão intimamente interligados e quando você começa a montar o quebra-cabeça e perceber o-que-está-acontecendo quer logo saber a conclusão de tudo. Eu fiquei tão surpresa com o rumo que a história tomou que só consegui pensar numa palavra: SENSACIONAL.
– Ethan, às vezes você se sente como se estivesse o tempo todo sonhando?
– Não, acho que não.
– Estou achando difícil distinguir entre o sono e a vigília. - explica Tara. – Não gosto do escuro. Também não gosto muito de acreditar em coisas impossíveis.
O livro tem bastantes personagens e achei que os principais foram bem elaborados. Gostei de como a autora não classificou o mocinho e o vilão. Acho que isso torna as coisas simplórias, já que o bem e o mal estão em todos, em nuances diferentes. Como a narrativa nos mostra diversas perspectivas, a gente não chega a torcer para um ou outro. Em diversos momentos eu ficava surpresa com um revelação inesperada em relação a algum personagem que eu não desconfiava.
Também achei fantástica a ideia do romance entre os protagonistas. Não é nada convencional - ele praticamente não é tangível até mais da metade do livro - e isso é o melhor. É um romance proibido sim, mas a autora foi além do esperado e conseguiu criar um romance que torcemos pelo casal ao mesmo tempo que desconfiamos de toda atmosfera do relacionamento entre eles. Eu, particularmente, suspirava com os encontros furtivos entre os dois e rezava desejava de todo coração que eles pudessem ser felizes porque a situação era complicada!
– Eu já vi você assim antes - diz ela (...) – Você assistiu ao meu espetáculo desse jeito.
– Você se lembra de todas as suas plateias? - pergunta Marco.
– Nem todas - responde Celia. – Mas me lembro das pessoas que me olham desse jeito.
– E que jeito seria esse?
– Como se não conseguissem decidir se têm medo de mim ou se querem me beijar.
– Eu não tenho medo de você. - diz Marco.
#Ui \o/
Se eu recomendo o livro? É claro. Se eu acho que todo mundo vai captar a intensidade e se envolver com a historia como eu? Não, infelizmente.