Quando a editora Intrínseca anunciou o lançamento de outro livro da Gillian Flynn eu logo fiquei empolgada. Depois de ler Garota Exemplar, decidi que precisaria ler tudo mais que essa moça escrevesse. Li Objetos Cortantes e amei também, então estava cheia de expectativas para Lugares Escuros, que foi o 2º livro que ela lançou na carreira. Na época do lançamento eu estava com outros livros na fila e também quis aguardar a capa original #confesso - quero meus livros da Gillian combinadinhos na estante #dessas. Quando recebi o email da editora avisando que estava saindo o livro com a capa padronizada, foi o aviso que estava na hora de conhecer essa trama.
Como os outros livros de Gillian, Lugares Escuros também é narrado em primeira pessoa por nossa protagonista Libby Day. Libby passou por uma tragédia familiar horrível quando era criança, quando toda sua família foi assassinada num massacre macabro em sua casa de fazenda. Seu irmão mais velho, Ben, foi condenado por ter cometido os crimes e 24 anos depois, Libby está praticamente falida, uma vez que usou todo o dinheiro que recebeu de doação durante a vida (ela se virou bem esses anos todos, sem trabalhar, só vivendo de renda...). Com a grana acabando, Libby percebe que precisa achar uma forma de conseguir dinheiro pra sobreviver – de preferência, sem precisar trabalhar. Libby tem sérios problemas de personalidade, mas ela é o tipo de protagonista que eu nem consigo culpar porque ela realmente teve uma infância de merda traumática, então eu entendo o fato dela ser psicologicamente problemática e ter alguns desvios de caráter.
Quando eu tinha quartoze anos, pensei muito em me matar – é um passatempo hoje, mas aos quatorze era uma vocação.
Como Libby foi uma ‘criança famosa’, ela recebe cartas de fãs de todo o tipo: gente que conhece o caso e quer saber sobre ela e a família e tudo mais. No meio desses fãs acaba aparecendo Lyle Wirth, que é o responsável por um tal de Kill Club, um clube de gente interessada em casos conhecidos de assassinatos,. No Kill Club, tem fãs do caso da família Day e eles estão dispostos a pagar por informações sobre o fatídico dia dos assassinatos – já que Libby estava lá – e também por souvenires que Libby possa ter da família, coisas que ela tem e poderia vender.
— Não sou bom nesse tipo de coisa. - disse Lyle, dando de ombros.
— Que tipo de coisa?
— Artimanhas.
— Ah, bem, esse definitivamente é meu tipo de coisa.
Num encontro do Kill Club, conversando com fãs do caso Day, Libby acaba descobrindo – ou apenas afirmando – que grande parte das pessoas que conhecem o caso, não acreditam que Ben Day seja o culpado pelos crimes da madrugada de 03 de janeiro de 1985 e até a culpam pela prisão dele – já que ela foi a testemunha chave do caso, apesar da pouca idade. Em principio, Libby se recusa a ceder e acreditar que possa ter dado algum depoimento errado sobre a noite, mas depois, tanto por precisar do dinheiro daquelas pessoas, quanto por ela mesma perceber que pode ter declarado algo que não tem tanta certeza, Libby resolve investigar – com ajuda de Lyle – sobre as pessoas envolvidas com sua família para finalmente esclarecer o que aconteceu naquela madrugada.
No banco do carona, havia uma única garrafinha de vodca que eu planejava engolir quando chegasse à prisão, uma dose de insensibilidade autoprescrita.
Enquanto acompanhamos a narrativa atual de Libby e suas próprias investigações sobre o que realmente aconteceu na noite dos assassinatos, também temos intercalados a narrativa da mãe de Libby e de Ben durante o dia anterior a noite dos assassinatos e com isso nós vamos montando nosso próprio caso. Eu já li dois livros da Gillian, mas nunca consigo descobrir nada... Todo mundo me parece muito suspeito e eu realmente não arrisco culpar ninguém.
Esse livro tem essa característica de mesclar as narrativas e isso é muito bom porque nos faz conhecer outros personagens pra tentar desvendar o que pode ter acontecido, o que fez tudo dar tão errado e o filho mais velho acabar sendo acusado de satanismo por ter matado a mãe e as irmãs. Eu sempre gosto das protagonistas femininas da Gillian porque elas não são nada do que se espera de mocinhas. Sempre são cheias de problemas psicológicos e são expressadas sem clichês femininos, Libby não é diferente. Gillian também sabe usar a narrativa intercalada fantasticamente porque quando eu achava que a trama de um estava ficando boa e eu ia descobrir algo crucial, ela cortava e a gente ia acompanhar outro personagem que fazia tudo que pensávamos ter descoberto cair por terra. Também achei interessante a acusação do crime porque nos anos 80/90 lá nos EUA, principalmente no interior, tinha realmente essa onda de satanismo e realmente existiram muitos casos assim. Achei que ela teve uma boa sacada ao escrever sobre o assunto porque combinou muito com todo o ambiente da trama (me lembrou o caso verídico do livro Vida Após a Morte). Também achei toda a conclusão bem inesperada e ao mesmo tempo, completamente coerente com o que acompanhamos.
Meu estômago revirou com uma imagem solitária de mim mesma presa ali ou em algum lugar como aquele. Não era tão improvável para uma mulher sem família, dinheiro e habilidades. Uma mulher com certo pragmatismo degenerado.
Achei o livro emocionante e com boas reviravoltas. Se você já conhece o trabalho da Gillian não pode deixar de ler e se não conhece, é uma boa maneira de começar a conhecer a autora. O livro tem algo de bem sombrio devido a toda a natureza do crime, mas confesso que fiquei menos apavorada com esse do que com Objetos Cortantes. Acho essa trama bem mais macabra, mas não sei se pela forma com a qual ele é narrado, ou por eu já estar mais preparada para algo de Gillian, consegui ler esse sem ter pesadelos. Mas é realmente um livro fantástico, com uma temática muito instigante e uma narrativa que empolga - o tipo de livro que eu leio e penso 'uau, que mente a desse autor pra bolar algo assim!'. Se você ainda não leu, não perca mais tempo!
O filme desse livro foi lançado no meio desse ano. Alguém já viu? Agora que li estou preparada para assistir - ou não, as cenas são fortes, não sei se vou aguentar VER!
Evellyn, jurava que você já tinha lido este livro... Mas a questão de esperar sair a capa padronizada faz bastante sentido (eu confesso que não sabia que eles já tinham lançado a nova versão - e venhamos e convenhamos, é infinitamente superior aquela sem graça com a capa do filme).
ResponderExcluirConfesso que, pelo lance dos assassinatos em família, por se passar no interior, pelo filho ser acusado de satanismo, e protagonista usar a tragédia da própria família para ganhar dinheiro, é o livro da autor que mais chama a minha atenção. Eu ainda não li nada dela, mas estou pensando seriamente em dar uma chance a "Lugares Escuros" - e dou muitas graças por ainda não ter assistido ao filme, pois isto mataria completamente a minha vontade de ler o livro. XD
Henri B. Neto
"Na Minha Estante"
Estou doida pra ler esse livro, curto muito um drama, parece ser bem emocionante e cada resenha que leio dele me deixa ainda mais ansiosa em conferi essa história.
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