Eu Li: Jogo de Espelhos (Mirror, Mirror)

Jogo de Espelhos é o livro de estreia de Cara Delevingne - a modelo, atriz, empresaria - e eu fiquei interessada em ler não pela Cara - nada contra, mas nunca fui com a cara (!) e só piorou depois que ela deu vida a personagem mais odiada de todos os tempos: MRS - mas porque tem a colaboração de Rowan Coleman, uma autora bem famosa lá fora e com livros que me interessam. A sinopse também me ganhou porque é um livro com adolescentes e música e meu lado HSM/Lemonade Mouth fangirl gritou! Sabendo disso, pedi a editora Intrínseca o livro para ler e resenhar e agora vou compartilhar com vocês porque ele livro realmente surpreendeu.

Jogo de Espelhos é narrado por Red, nosso protagonista. Red está no ensino médio e  há um ano viu sua vida mudar depois que se juntou a alguns colegas de classe e formou uma banda, a Mirror Mirror. Acontece que Red, Leo, Rose e Naomi nem eram amigos, mas, forçados a se juntar numa banda para um trabalho, os quatro acabaram gostando do som e formaram a banda. A banda está ficando famosinha pelas redondezas e na escola o status deles se elevou porque eles tem uma banda de rock! então Red estava achando a vida muito boa, mesmo com os problemas que enfrenta em casa. Mas acontece que dois meses antes, Naomi, a baixista da banda e grande amiga de Red - era a dupla compositora - sumiu. Eles procuraram, a policia procurou, mas nada foi encontrado. Então Red e os outros, incentivados pelo professor de música (o responsável pela união da banda), resolvem fazer uma especie de show beneficente para juntar dinheiro e ajudar nas buscas da amiga. Mas então, pouco antes da data para esse show, Nai é encontrada. Ela é levada para o hospital e fica em coma induzido enquanto os médicos avaliam a situação e tentam dar a ela uma nova chance. 
Uma das coisas mais legas na nossa amizade era que não precisávamos saber de todos os segredos. A gente só precisava se entender bem.
gosto assim!
Enquanto isso, Red e a irmã de Nai acabam se envolvendo em uma investigação particular para descobrir o que pode ter acontecido para Naomi sumir por meses. A policia não está levando o caso muito a sério porque eles acreditam que Nai sumiu porque queria - ela tinha histórico de fugas de casa - e mesmo depois que ela reaparece, não existem provas para que a investigação caminhe para outro lado. Mas Red faz algumas descobertas e junto com Ashira, a irmã hacker de Nai, começam a investigar.
Você nunca desiste de mim, nunca me decepciona. Não importa as merdas que eu faça ou diga, e isso é muito especial, você é muito especial para mim, sabe disso, não sabe?
Vou confessar que no inicio do livro tive alguns prolemas com a descrição da trama. Quer dizer, é um livro que já começa 'do meio' e a gente já começa a leitura com muita informação sendo 'jogada'. Mas meu maior problema nem foi essa questão, foi porque achei o inicio especialmente problemático por conta de algumas falas de Red. É como se tivessem pegado todos os clichês sobre adolescentes e jogado na trama, e isso me deixou meio 'Hmmmm', mas segui a leitura, afinal, eu queria saber o que raios tinha acontecido com a integrante desaparecida e encontrada quase morta. Demorei pra engrenar a leitura, porque tive esse probleminhas com algumas coisas no inicio, mas depois resolvi me concentrar e foi aí que a coisa desenvolveu.

Apesar de alguns momentos de Red inicialmente não terem me agradado e não ter gostado muito de alguns clichês adolescentes do ensino médio, acho que no decorrer da história as coisas começam a fazer sentido (dentro da realidade exposta) e aí você consegue relevar aqueles detalhes incômodos. Apesar de não ter amado nenhum dos integrantes da banda, eu até consegui entendê-los. Acho que a personagem que mais gosto no livro é Ashira, porque ela é toda pro-ativa, toda entendida dos sistemas e ela me fazia rir com toda a coisa de ser hacker. 

Mas o grande fator UAU do livro acontece depois da metade. É um dos maiores plot twists que já vi num livro adolescente e eu fiquei realmente impressionada porque é algo muito inesperado! Eu quase tive vontade de reler tudo pra ler com essa nova perspetiva. Achei realmente legal essa virada na trama e ela subiu bem no meu conceito devido a isso! Eu realmente queria que todos os meus amigos estivesse lendo pra conversar com eles sobre o assunto. É inesperado, mas faz sentido e dá um novo olhar sobre tudo que já havíamos lido. Abaixo vou deixar um comentário spoiler sobre uma consideração minha! Selecione e leia apenas se você já tiver lido o livro!

Sério, achei sensacional a revelação sobre Red! Quando li eu quase achei que tinha algum erro porque demorei a acreditar que era aquilo mesmo, mas achei demais. Só acho uma pena que a tradução para o português tenha atrapalhado um pouco o inicio no livro. Notei o cuidado da tradutora em usar o minimo possível do art, definido, mas no nosso idioma é complicado dispor dos mesmos recursos que no inglês - onde os adjetivos não se definem pelo gênero. Então acho que no original, essa sacada fica até mais fácil de entender, já no nosso idioma, fica notável que algumas coisas precisaram soar 'erradas' para que se mantivesse o mistério.
... não sinto medo. Então é para isso que a vodca serve. Ela acaba com todas as suas emoções e deixa você destemido.
Sobre o grande mistério envolvendo o sumiço de Naomi, achei que foi uma trama bem estruturada, até. Não fiquei surpresa com a grande revelação - acho que os anos de CSI e as leituras policiais estão fazendo efeito - mas achei interessante o modo como as coisas foram construídas e explicadas. De fato, não é a coisa mais surpreendente da trama, mas é bem explicadinha e cumpre o papel. Acho que, apesar dessa parte investigativa d livro, o foco da trama é mesmo as relações. Entre as famílias, entre os amigos, como tudo pode ser confuso e complicado nessa fase da vida e como o apoio das pessoas que amamos pode ser o diferencial.

Um livro bem interessante, principalmente pelos temas abordados. Se você já leu, comente e converse comigo!

Eu Li: Tartarugas Até Lá Embaixo (Turtles All the Way Down)

Depois de um longo inverno (não sei o porquê, mas amo essa expressão e quis usá-la) John Green voltou a nos agraciar com um livro todinho escrito por suas mãos de mago (perdoem a breguisse, acho que estou meio enferrujada, e principalmente, nostálgica, então preparem o vocabulário para coisas do tipo). Depois do estrondoso (olha isso) sucesso de A Culpa é das Estrelas, Green nunca mais tinha escrito um livro inteirinho e todos os fãs ficaram órfãos. Mas cinco anos se passaram e John  Green resolveu o problema dos nerdfighters com mais um livro fresquinho. Eu fiquei animadíssima quando soube do livro na época da Bienal Rio e, obviamente,a expectativa era ainda mais alta. Então vamos começar essa resenha!

O livro é narrado por Aza Holmes, nossa protagonista. Aza está no segundo ano do ensino médio e estuda na White River High School, em Indianópolis. Aza tem dois amigos próximos, Daisy e Mychal e é completamente apaixonada por Harold, seu Corolla azul brilhante. É realmente a personagem mais apaixonada por um carro que eu já li - e já li umas pessoas bem apaixonadas pelo próprio carro.
Vemos adultos tentando preencher o vazio com bebida, dinheiro, D , fama ou com o que quer que idolatrem, e tudo isso faz com que apodreçam por dentro, até não sobrar nada além do dinheiro, da bebida ou do Deus que eles acharam que era a salvação.
essa citação é maravilhosa. Uma facada de realidade.
O grande lance da trama de Aza é que ela tem TOC, num grau bem pesado. E talvez você nunca tenha levado o transtorno bsessivo ompulsivo muito a sério (existe tanta piada a respeito desta doença, né), mas a real é que é um transtorno psicológico muito complicado e a forma que ele afeta a vida da Aza é realmente assustadora e como o livro é narrado por ela, nós estamos o tempo todo dentro-da-cabeça-dela, vivendo as fases mais complicadas do que ela enfrenta. A história do livro é muito interessante porque embora a gente tenha esse contato bem próximo à doença da protagonista, a trama tem todo um clima de investigação. Acontece que Aza, influenciada por Daisy, começa a investigar o paradeiro de um bilionário acusado de corrupção, pois ela já fora amiga do filho desse cara. Aí Daisy convence a amiga a se reaproximar do menino para ver se descobrem algo - porque existe uma recompensa - e a trama toda se desenrola entre essas amizades, reencontros e buscas.

É um livro com uma leitura muito fluida, muito fácil, mesmo quando Aza está tendo um surto compulsivo e está falando nomes de bactérias que eu nem sabia que existia. Acho que John Green sabe trabalhar muito bem as medidas porque apesar do livro ser bem focado nesse problema pessoal de Aza, as partes sobre outros assuntos conseguem contrabalancear bem e isso torna a leitura muito agradável. Por exemplo, a amizade de Aza, Daisy e Mychal é um dos pontos altos do livro e quando conhecemos Davis Pickett - o jovem do pai fugitivo - a interação entre ele e Aza, além de toda a importância para o desenvolvimento da trama, é realmente empolgante. 
Eu não conseguia me fazer feliz, mas conseguia fazer as pessoas ao meu redor infelizes.
eu sinto muito isso
Eu tento não ser fã do John Green, mas é impossível não admitir que o cara tem um apelo forte para escrever para jovens porque ele consegue escrever de forma crível, tocante e ainda assim interessante e cheio de significâncias para o leitor. Eu comecei esse livro já batendo palmos porque a forma que ele conseguiu descrever um transtorno, de um modo que fica tão tangível é realmente de se admirar. Eu não tenho TOC, mas por ter outros probleminhas psicológicos, achei extremamente sensível e admirável a forma que ele conseguiu escrever a Aza. Acho que livros assim são importantes para o jovem ler, porque expõe assuntos que não são comumente abordados, mas que podem ser um diferencial na vida de quem passa por ele ou conhece alguém - ou apenas quer se informar. Não se assuste com o título exótico. Ele significa tudo depois que você lê - e a capa
Tenho a sensação de que você só gostar de mim de longe. Preciso que gostem de mim de perto.
Terminei o livro completamente tocada pela história. E o final desse livro é muito bonito, sabe? É o tipo de final que você pode reler tempos depois e ainda se emocionar porque ele consegue transmitir tudo, fazer um compiladão de toda a trama e causar a mesma sensação da primeira leitura - e digo isso porque eu reli o final outras vezes. O livro todo é muito bom e o final é igualmente lindo. Não é um "final feliz" - estamos falando de John Green, eu não esperaria por algo tradicional - mas é o final ideal. Eu cheguei a considerar o final 'triste', mas é o tipo de final que tem um significado maior do que um adjetivo desse nível. É um final que casa muito com a trama e isso me deixa bem satisfeita. 

Foi um livro que gostei tanto logo de cara que saí recomendando aos meus amigos que lesse também, pra que eu tivesse com quem conversar sobre o livro enquanto lia (obrigada Mah, Vivi) e foi muito bom porque pudemos discutir o final do livro e as sensações que ele causou em nós. Então eu realmente recomendo que você leia Tartarugas Até Lá Embaixo! Leia com os amigos, leia sozinho, apenas leia. E venha conversar comigo sobre ele porque ele definitivamente entrou no meu TOP 1 John Green. É meu livro favorito dele.
O problema dos finais felizes é que ou não são realmente felizes, ou não são realmente finais, sabe? Na vida real, algumas coisas melhoram e outras pioram. E aí a gente morre.
John Green é John Green, não é mesmo?