Eu Li: Garotas Sérias (Serious Girls)

Garotas Sérias é o primeiro livro da Maxine Swann, publicado originalmente em 2004, lançado  por aqui recentemente pelo selo Essência da editora Planeta. Esse selo costuma lançar chick-lits, mas esse romance passa longe do que costumamos classificar como tal. Sim, é um livro para mulheres, mas seu enredo é muito mais profundo do que os que costumamos ler em livros do estilo. 

O livro é narrado em primeira pessoa por Maya, uma garota de 16 anos que começou a estudar num colégio interno em algum lugar nas proximidades de Nova York. No começo do ano letivo, ela conhece Roe, que tem a mesma idade e veio do Sul. As duas tiveram criações bem diferentes, mas se tornam amigas por diversos gostos em comum e a mesma curiosidade e dúvidas em relação à vida. 

A leitura flui bem e embora não seja exatamente cativante a ponto de você não conseguir parar de ler, é suficiente ao ponto de você querer terminar e saber onde aquilo dará. Na verdade, meu problema com o livro foi justamente o tanto de reflexão que ele me provocou. É um livro que parece despretensioso, mas me fez pensar muito! Eu lia um parágrafo e divagava por meia hora sobre a vida (juro, aconteceu demais). E não é que as situações retratadas tivessem algum fato remotamente relacionado a mim, mas foi como se a leitura abrisse vários cadeados em meu pensamento e eu precisava refletir. 

O grande lance do livro é que ele toma um rumo diferente do esperado. Pela sinopse você imagina duas garotas saindo por aí para experimentar de tudo e viver-la-vida-loka, mas as coisas não são bem assim. Elas realmente saem do colégio em busca de novas experiências, mas não da forma tradicional que esperaríamos encontrar num livro jovem. Garotas Sérias é um livro mais complexo do que se imagina. 

Maya está numa fase de querer viver novas experiencias. Ela foi criada só pela mãe, de um modo meio hippie e tem uma avó que é super rica e um tanto quanto exótica - a avó aparece pouco mas é uma figura! Roe foi criada só pelo pai, um militar tradicional, sem uma presença feminina. As duas meninas querem conhecer o mundo, descobrir um motivo para se viver. Durante a leitura, sentia como se a história toda se passasse nos anos 90. O ano não é citado, mas as situações, o comportamento em relação a algumas coisas e até a história das meninas, me fez lembrar muito a época dos 90.

Nós concordamos que Jane Eyre é melhor que O Morro dos Ventos Uivantes e que o senhor Ryan é o professor mais bonito do colégio.

Eu não conheço o senhor Ryan nem li Jane Eyre, mas estou muito certa que é melhor que O Morro...

Nós achamos que ninguém conversa sobre as coisas que conversamos ou descobriu as coisas que descobrimos. Nós achamos que ninguém é assim tão interessante.

Cá entre nós, eu também sempre tive essa sensação!

Um pouco depois do meio pro final, o livro ganha uma aspecto mais introspectivo. Maya entra numa fase confusa, a beira de um surto e então a narrativa fica um pouco mais densa, do tipo quase intragável. É como se a atmosfera pesasse e você se sentisse meio a esmo, como a protagonista. Isso é meio cansativo, até mesmo porque poucos diálogos aparecem. É um livro para uma leitura um pouco mais subjetiva e talvez isso não cative e agrade a maioria dos leitores. Eu gostei, apesar de me sentir num paradoxo devido a esses sentimentos de reflexão. 

Não é a forma como as pessoas olham para mim, é a maneira como eles não olham que me estremesse.

Tudo que eu faço parece suspeito. Acho que até eu mesma pareço suspeita [...]. Eu tenho certeza de que vou ser parada por alguém, jogada contra a parede, e que eu mereço isso, embora não saiba o porquê.

O enredo tem um objetivo. É basicamente um livro para falar sobre dúvidas e mudanças e como quando somos jovens tudo pode parecer uma coisa e se revelar outra. Acho que por isso me deixou tão reflexiva. Algumas coisas parecem não ter um ponto final definido. Bem, sou detalhista, gostaria de saber exatamente o que aconteceu com certos personagens, mas isso acaba sendo só um detalhe, já que o importante não é mostrar como ou porque e sim as expectativas e experiências vividas. É uma historia densa e por vezes cansativa. Se você não estiver num pique de leitura, pode ficar entediado ou exausto, mas se quiser ler algo diferente e que passa por cima das aparências, pode dar uma chance.