Eu Li: A Última Carta de Amor (The Last Letter From Your Lover)

Alguns livros você sente que irá gostar antes mesmo de começar a ler e isso aconteceu comigo no livro de Jojo Moyes, recentemente lançado pela Intrinseca. Assim que vi o booktrailer, soube que seria um daqueles livros densos, que envolvem e marcam – e emocionam muito. Leiam sem restrições, nada de spoilers!

A Última Carta começa no presente, narrando em 3ª pessoa sobre a situação de uma bem sucedida jornalista do jornal Nation, em Londres. Ellie está na faixa dos trinta, tem um bom emprego, um apartamento e um amor. O problema é que esse amor é casado com outra mulher, tem filhos. Ela sabe bem onde está pisando, mas depois de um ano, não consegue deixar de pensar onde aquilo pode chegar. Ellie tem duas amigas que a apoiam apesar de qualquer coisa e um amigo que resolveu dizer umas verdades que não a agradaram. 

– Vocês mulheres tem uma visão tão equivocada dos homens...
– Você acha que ele é feliz com ela? – Ela analisa a expressão no rosto do amigo.
– Não tenho ideia. Só não acho que ele precisa ser infeliz com a mulher para transar com você.

Enquanto isso, no trabalho, Ellie esta sendo pressionada a escrever uma matéria sobre amores passados, relacionamentos perdidos. E procurando nos arquivos do jornal, encontra uma carta antiga, datada de 40 anos atrás, que instiga a curiosidade dela, pois trata-se de uma 'última carta de amor'. A partir daí, mergulhamos nos anos 60 para conhecer a historia dos amantes e o que os levou àquela ultima carta. 

[...] Jennifer Stirling era provavelmente um pouco negligenciada, mais inteligente do que sua posição exigia que fosse, e que ela não se dera conta do efeito que a combinação poderia lhe causar em um ou dois anos. Por ora, só a ponta de tristeza em seu olhar sugeria que ela tinha consciência disso. Ela estava presa num infinito e sem sentido turbilhão social.

Nos 60s, conhecemos Jennifer, uma mulher jovem, casada a pouco tempo com um rico empresário. Mas acontece que Jenn sofreu um acidente e perdeu parte da memória (não como dano permante), e não se lembra de como foi parar no hospital ou que era casada. Ao voltar pra casa Jenn sente constantemente uma sensação de desconforto, como se aquele lugar lhe fosse estranho, como se devesse estar longe dali. 

Na verdade, sempre tenho receio em ler coisas que se passam há mais de vinte anos porque tenho a falsa sensação não conseguirei me envolver num mundo que existia antes de eu nascer, mas sei que isso é bobagem. A linguagem utilizada, mesmo nos anos 60 é muito atemporal, os protagonistas da historia tem aquele comportamento típico, mas também são gente-como-a-gente. Jennifer e Boot tem diálogos fantásticos e tudo é narrado de uma forma muito real. Gostei de como a autora foi detalhista, mas manteve o mistério, deixava peças soltas que só iriam se encaixar mais adiante. Nós vamos descobrindo as coisas com Jenn (no passado) e Ellie (atualmente). 

– Na verdade, vou beber alguma coisa. – disse ela. – Você se importaria?
– Você devia mesmo beber alguma coisa. E eu vou desfrutar da bebida vicariamente.
– Vicariamente. – repetiu ela, fazendo um sinal para o garçom. Pediu um martíni com muito gelo.
Uma bebida social, pensou ele.

Achei a narração do livro fantástica. Pra uma pessoa fã de primeira pessoa, achei que a narração em terceira foi o ideal. Jojo narra com perfeição a vida nos anos 60 e eu pude me sentir naquela época, vivendo numa sociedade bem diferente da atual. Foi um livro que li sem pressa, apreciando cada descoberta, torcendo por cada momento, esperando por um final feliz que a cada momento parecia mais impossível. 

– Você tem que entender, Mo, querida. Que há flertes e flertes. Reggie e Jenny estão relembrando os velhos tempos, mas nenhum dos dois jamais pensaria em traição. Estão flertando, sim, mas estão fazendo isso numa sala cheia de gente, sem tentar esconder.

Eu não sou uma pessoa romântica, mas ler as cartas de amor que iam sendo descobertas me deixava sensível e pensando 'uau, como seria extraordinário ter alguém que me escrevesse coisas assim, ou quem sabe conseguir escrever algo assim para alguém'. Os capítulos começam sempre com uma 'última carta de amor' – realmente verdadeiras, e achei interessante porque algumas são terríveis! Ler  as cartas do livro, e então términos por SMS do tipo 'Vc e eu acabou.' é deprimente! As pessoas estão se tornando frias e ler esse romance me trouxe um pouco de calor e esperança.

Há coisas que adoro em você, mas também há coisas que odeio. Acho que você deveria saber que agora penso cada vez mais nas coisas que me incomodam em você..."

Essa carta me lembrou algo de 10 Coisas que Odeio em Você.

É GENIAL como as coisas são amarradas. Leia com muita atenção, prenda-se aos detalhes, não tenha pressa. Jojo não só escreveu um romance com dramas, amores proibidos, situações agravantes (não, isso está mais para Nicholas), ela soube misturar os fatos – até os aparentemente irrelevantes – tranformando a leitura em algo único. Eu lacrimejava e me surpreendia com cada reviravolta ocorrida no enredo (principalmente após a parte 3) e quando chegou o momento onde as coisas começavam a se encaixar eu me senti totalmente perspicaz porque consegui descobrir antes da revelação oficial (okay, uma página antes, mas ainda assim...) É um livro lindo, com uma historia emocionante. 

Esse livro entrou na minha lista de favoritos do ano. O que a leitura despertou em mim enquanto lia foi algo muito parecido do que senti ao ler Um Dia (apesar de não ter nada a ver, senão as excelentes críticas pelo mundo). É o tipo de livro que marca a alma, o tipo que eu vou querer reler daqui a algum tempo. O tipo que eu terminei com lágrimas nos olhos – de felicidade e de vontade de ler mais.

A Última Carta é lindo e triste; emocionante e desolador; marcante e comovente. Épico. E me fez perceber que eu sou uma manteiga derretida que foi posta no congelador, prestes a descongelar a qualquer queda de luz.