Eu Li: Quase uma Rockstar (Sorta Like a Rock Star)

Matthew Quick é um dos autores que gostei de conhecer e  por isso, coloquei na minha lista de: ler sempre que tiver livro novo. Quando foi anunciada a publicação de Quase uma Rockstar pela Intrínseca, fiquei super curiosa pelo que viria. Li o minimo possível sobre a trama e quando o livro chegou, comecei logo a ler.

Amber Appletown (adorei esse nome, é tão sonoro) é uma adolescente diferente das que vemos por aí. Ao contrario da maioria - que vive fazendo drama e vivendo uma sofrência desnecessária por qualquer pouca coisa, Amber costuma sempre ver o lado bom da vida (sorry, não pude deixar essa piada pronta de fora), o tipo de pessoa para quem o copo está sempre meio cheio - não importa o pouco de água que pode haver nele. Ela se considera a Princesa da Esperança e mesmo sem estar vivendo a vida que sonhou, gosta de pensar que a vida vai melhorar - a qualquer momento - e por ter essa fé inabalada e esse otimismo incansável, acredita que deve fazer as pessoas a sua volta sentirem o mesmo. Não pense que a vida de Amber, nossa protagonista e narradora, é fácil. Ela, a mãe e seu cão vira-lata Bobby Big Boy, moram em um ônibus escolar, elas mal tem dinheiro para comer ou comprar roupas de frio e ainda assim Amber mantém sua convicção de que as coisas melhorarão.

Apesar de todos os contratempos, Amber vai levando a vida envolta de diversas atividades que preenchem seus dias. Participa de um clube meio decadente na escola, mas onde conta com a amizade de seus colegas e do professor responsável, é voluntária numa igreja onde ensina inglês para moças coreanas e também numa casa de repouso onde consegue animar os velhinhos e passar um pouco de seu positivismo para aqueles que não tem visitas nem noticias da família há anos. Esse aspecto de Amber é um dos grandes pontos positivos do enredo, porque ela é uma protagonista realmente diferente de todas que já li.

Mas nem só a inabalável e a esperança constante fazem de Amber - e do livro - algo inesperado e único. A trama toda tem uma atmosfera muito gostosa para se ler e alguns pontos bem inusitados que me cativaram de cara. Primeiramente, foi a primeira vez que li num livro jovem sobre uma protagonista tão ativa em sua religião, ainda mais sendo esta religião a católica. Já li algumas tramas com protagonistas evangélicas existe um grande segmento de livros para este público, mas realmente nunca tinha lido nada "sem fundo religioso" onde o protagonista frequenta uma igreja e fala disso com tanta convicção, fé e, principalmente, entusiasmo. Claro que esse nem é o foco do livro - não pensem isso - mas achei bem interessante como o autor usou esse fato para mostrar um pouco mais sobre a personalidade de Amber e em como isso condiz com o modo como ela encara a vida. Amber é um dos membros mais ativos da igreja católico-coreana, do padre Chee, fazendo seu trabalho de professora de inglês com as Divas Coreanas por Cristo (!). Além disso, a relação de amizade dela com o padre é realmente algo bem bonito e que rende diálogos bem interessantes e sinceros.
— Padre Chee?
— Diga, Amber.
— Por que algumas pessoas passam pela vida sem nunca ter que enfrentar uma grande tragédia, enquanto outras têm que viver uma coisa horrível atrás da outra?
— Não sei.
Acreditem, no contexto, esse diálogo é dos mais emocionantes!
A enorme fé em Deus e em JC - como ela chama - que Amber mantém é realmente algo tocante, porque o modo como ela conta sua trajetória e mantém contato com essa fé é digno de cumprimentos.

O livro todo é desenvolvido de uma forma bem direta e os capítulos passam sem cansaço. Como Amber é uma jovem com várias atividades, há certa quantia de personagens e gostei de ver a participação de cada um deles na história, porque tem um momento onde todos se juntam e achei incrível como isso foi feito, considerando que Amber conhece todo tipo de gente. Entre meus preferidos, está o Padre Chee, o sr. Linder e a Donna - além de obviamente, o Bobby Big Boy aka BBB, 3B, Triplo B. Apesar de ter partes bem emocionantes, consegui segurar as lágrimas até um momento no final onde a surpresa foi tanta e a cena foi tão linda que eu chorei alto e escandalosamente! E eu já tinha passado por outras partes tão bem... Mas sabe quando acontece algo que nos emociona por poder dar aquele alívio e aquela felicidade que sabemos que o protagonista merece? Foi isso.

Acho que uma das cisas que mais me encantou no livro foi o fato de Amber ser tão esperançosa e eu me identifico bastante com isso. Claro que as vezes choro as pitangas lá no Twitter, mas gosto de me considerar uma pessoa positiva e sempre tento passar as pessoas ao meu redor um pouco de esperança e alegria - afinal, nossa vida particular as vezes é tão carregada de dramas, não é? - e foi justamente neste ponto que me senti representada pela Amber! Na verdade, até peguei algumas dicas com ela para melhorar a convivência com as pessoas a minha volta!

Agora, como nem só de cosas boas se faz um livro, existe um aspecto nele que me incomodou bastante. Amber tem um vício de linguagem onde preenche suas frases com não é, pois é, juro, sério e chega um momento que isso se torna monótono e irritante. Embora eu entenda que esse recurso de linguagem foi usado de forma proposital, por se tratar de uma narrativa adolescente, a narrativa ficou tão repleta disso que eu achei bem cansativo (o fato deles estarem ali, a cada final de frase). Digo, entendo exatamente a intenção do autor, mas achei que isso realmente pesou a mão na história e por vezes eu lia isso de uma forma irritada só porque já sabia que estaria lá (isso faz sentido pra vocês?). Enfim, não é algo que estrague o valor do livro, mas tem partes específicas onde isso aparece tanto, que realmente me incomodou.

Fora esse pequeno detalhe, adorei a leitura e realmente recomendo por ser algo fresco, jovem e principalmente por ter essa protagonista que não se deixa abater pelas provações da vida e nos mostra que é possível superar e ultrapassar as dificuldades, ainda que seja necessário um pouco de fé (não importa em quê). Quase uma Rockstar é uma trama dessas pra reler quando parece que a vida está ficando um pouco pesada, para ganhar um pouco de entusiasmo e ânimo para continuar!

Eu Li: Objetos Cortantes (Sharp Objects)

Eu gosto de ler livros sem ter nenhuma noção sobre o enredo, sem conhecer nem a sinopse dele. Quando soube que a Intrínseca estaria publicando outro livro da Gillian Flynn, imediatamente me interessei. Conheci a autora lendo Garota Exemplar e havia ficado maravilhada com sua forma de desenvolver uma trama complexa com tanta fluidez e perspicácia. Peguei a amostra disponível na Amazon para conferir do que se tratava e após a leitura daqueles três (quase quatro) capítulos, fiquei louca para conferir o livro todo. Quando recebi o livro, li numa tacada só porque precisava desvendar aquele mistério.

Camille Preaker é uma jovem repórter de um jornal de Chicago. O jornal não tem lá muito prestígio, mas o chefe de Camille é um cara que a apoia e acredita muito no potencial dela. Quando ocorre o desaparecimento de uma menina na pequena Wind Gap - Missouri, seu chefe vê no caso a oportunidade de alavancar o prestigio do jornal fazendo a cobertura do que ele acredita ser um grande caso - possivelmente envolvendo um serial killer - uma vez que meses antes uma outra menina fora assassinada após ser considerada desaparecida. Contando com isso, ele resolve enviar Camille para lá, aproveitando o fato de que ela é da cidade, para descobrir o que pode estar ocorrendo. Camille gostaria de recusar a oferta porque Wind Gap definitivamente não lhe traz boas recordações de infância, mas não consegue encontrar um bom motivo para recusar a proposta de Frank (o chefe), que além de apoia-la sempre, está certo que eles tem uma boa história.
Não sou do tipo de repórter que se delicia ao entrar na intimidade das pessoas. Provavelmente é por isso que sou uma jornalista de segunda.
Resolvendo deixar o passado de lado e fazer seu trabalho, Camille chega a Wind Gap e encontra a cidade abalada com o desaparecimento da criança. Por outro lado, ter que reencontrar a mãe, o padastro e a meia-irmã - que ela mal tivera contato durante a vida - também não a deixa psicologicamente muito estável. Camille nunca teve uma boa relação com a mãe - que sempre pareceu gostar mais da irmã mais nova, e também nunca chegou a conhecer o pai. A mãe de Camille sempre a sufocou e ela não tinha a intenção de voltar - e ainda se hospedar sobre o mesmo teto que eles - tão cedo, mas a convivência forçada acaba fazendo-a relembrar de coisas que ela não queria nem gostaria.
Problemas sempre começam muito antes de você realmente, realmente vê-los.
#fato
A premissa já é muito boa porque sempre gosto de livros (e enredos) que envolvem investigação criminal, jornalismo, passado escuso, problemas psicológicos e familiares. Camille também é uma ótima narradora porque acompanhamos com ela todo o conflito entre precisar fazer um trabalho e ao mesmo tempo ter que lidar com pessoas e fatos que ela gostaria de esquecer, criando um paradoxo interessante para o enredo. A própria personagem já é cheia dos conflitos internos, a maioria advindo do relacionamento com a mãe e gostei muito de acompanhar o desenvolvimento da relação entre elas (e a irmã).

Gosto de como Gillian constrói os personagens, trabalhando a parte psicológica de um modo que nos faz mergulhar para tentar entender e desvendar cada aspecto deles. Também acho que o livro trás algo de cru sobre a personalidade humana, que não é todo autor que consegue fazer isso bem. Também admiro como Gillian constrói suas personagens femininas - que não costumam ser retratadas com frieza na literatura e geralmente são seres puros e indefesos. Elas não estão envoltas em uma aura de perfeição e sim são mulheres com problemas reais, que levam a vida cheias de conflitos internos e objeções.
— Você é machista. Estou farta de homens liberais de esquerda praticando discriminação sexual sob disfarce de proteger as mulheres da discriminação sexual.
O final do livro não poderia ser melhor. Ao longo da trama, conseguimos desvendar - com Camille - o misterioso caso dos assassinatos, mas a forma como a autora construiu essa revelação e então desconstruiu tudo foi simplesmente genial! Eu cheguei as últimas páginas pensando 'ai meu Deus, não pode estar acabando- ainda há muito que quero saber sobre eles', mas então ela tira uma carta da manga e nos surpreende novamente. Meu único pesar é que o final acaba sendo um pouco corrido e nós acabamos com aquele sentimento injusto de 'eu queria mais detalhes' embora tudo seja devidamente explicado. Vocês já viram aqueles filmes que no final passam algumas frases retratando o que aconteceu depois? É assim que Objetos Cortantes termina - como um relato jornalistico do que ocorreu e eu já estava tão envolvida na vida de Camille que realmente queria mais!

Por fim, vou até deixar uma dica-da-Evellyn em primeira mão pra vocês: não leiam a sinopse. Apesar de preferir não ler, li depois que terminei a amostra (porque queria saber mais sobre o livro), mas achei que ela não reflete bem o enredo do livro e parece deslocada, entendem? Na verdade, tem uma revelação na sinopse que é algo que a gente só descobre lá pelo meio da leitura e acho que revelar isso assim, de cara, é meio desnecessário porque o gancho inicial da trama já é bom o suficiente para te prender sem que isso seja explicitado.

Esse livro está para virar uma série de TV, segundo as últimas informações. Enquanto isso, mal posso esperar para ler o próximo livro da Gillian (Dark Places), que a Intrínseca disse que irá laçar ainda este ano (e já tem filme por aí também!).