Belo Desastre foi um dos livros de 2012
que li em 2013 que eu me interessei antes mesmo de saber que seria lançado por aqui. Eu vi MUITOS
comentários controversos no
Goodreads (são ótimos, leia, mas cuidado para não se deixar influenciar e perder a vontade antes de conferir.) e fiquei curiosíssima para ler a história. Quando o livro foi lançado por aqui pela
editora Verus e eu recebi um exemplar, mal pude acreditar! Foi
coisa do destino porque eu nem imaginava que o livro já estava por aqui e cheguei a perguntar pelas redes sociais se alguém sabia de que livro tratava-se.
Sabe quando você lê uma história tendo uma ideia preconcebida do que vai encontrar – porque TODOS dizem a mesma coisa – e aí você lê e pensa 'espera, qual o problema comigo?'. Foi como me senti. Travis Madox é o bad boy da universidade. O cara participa de lutas sanguinárias que valem muito dinheiro (de onde ele tira seu sustento), pega metade das garotas sem se preocupar com o amanhã e vai muito bem, obrigada; Abby Abernathy é a garota do interior que chegou a faculdade tentando se livrar de seu passado secreto. Tudo que os dois planejavam cai por terra ao se conhecerem. Contrariando todas as expectativas, Travis e Abby se tornam melhores amigos e isso sim é uma grande surpresa para todos que conhecem Travis. Os boatos se tornam uma constante na vida dos dois, ainda mais depois que, após perder uma aposta, Abby tem que passar 1 mês morando no apartamento que Travis divide com o primo Shepley – que aliás, é namorado da melhor amiga de Abby, America.
Os quatro tem uma relação muito legal e passei boa parte da história achando tudo muito lindo e muito fofo – contrariando a opinião geral. Eu simplesmente amo o clima de irmandade que existe em torno do livro. Mas espere, o livro se chama BELO DESASTRE, então cadê o desastre dessa relação? Bem, o desastre é que os dois juntos são um trem prestes a descarrilhar.
Eu tenho algumas palavras para definir Travis, mas é complicado. Ele tem aquele comportamento típico dos mocinhos atuais: problemático, do tipo que tem estampado na testa 'fique comigo e tente me salvar de mim mesmo' ou 'afaste-se pelo seu próprio bem'; determinado, do tipo que não descansa até conseguir o que quer e atraente, do tipo 'é impossível você não se sentir atraído por mim, gata, por pior que seja meu comportamento'.
Mas mesmo com todos os problemas óbvios em relação a suas atitudes, eu não consegui odiar Travis em nenhum momento, exceto quando ele faz a coisa mais idiota que uma pessoa poderia fazer no capítulo 16 – guardem isso. Foi o único momento que achei que ele tinha um problema em potencial.
Por outro lado Abby, nossa narradora, me fez ter acessos de fúria, do tipo que eu queria entrar no livro e arrancá-la de lá (e pegar Travis pra mim, porque se ela estava achando que era muito pra aguentar eu podia dar conta. Hell yeah). Eu simplesmente não aguento essas garotas que sabem onde estão se metendo e depois ficam criando caso por tudo!
Então, eis que esses dois se amam de paixão, mas tem as mais idiotas brigas possíveis! Juro, quando leio esse tipo de coisa quase desejo que minha vida fosse assim tão simples. Tipo eu-te-amo-você-me-ama-vamos-ficar-juntos-e-F-todo-o-resto. Mas fica tão obvio que eles ficam juntos e só ficam arranjando problemas para se manterem afastados!
Agora vamos aos pontos problemas. Sim, o amor é lindo e pode ser um desastre (mesmo que ninguém morra, amar só é uma droga na maior parte das vezes), mas os problemas são solucionáveis se você não tiver o tempo todo lutando contra si mesmo.
- O passado de Abby: sério, existe um mistério em torno disso que te faz formular as mais maquiavélicas teorias, ou pelo menos algo realmente dramático do tipo sexo, drogas e rock'n'roll, mas quando a revelação vem a tona só consegui sentir frustração porque achei tão... Sim, esses três pontos descrevem o que senti. A revelação acontece em 2 partes principais. A 1ª é bem frustrante e a 2ª um pouco melhor, mas ainda assim eu achei a coisa meio 'ah tá, que ruim... Mas você fez todo esse mistério por isso?' Sério, parece eu quando digo que tenho um passado secreto e as pessoas imaginam as piores coisas e aí descobrem que é só uma coisa ruim e ponto.
- O efeito Travis: o cara é lindo, tem toda uma aura em torno de si gritando 'eu não sou um cara legal, afaste-se' e obviamente tem um temperamento incontrolável do tipo que ninguém quer ter por perto. Ele também é possessivo demais, neurótico demais, exigente demais. Ele é simplesmente a definição de DEMAIS. Eu não sou louca e nunca gostei de um bad boy (na vida real, porque nos livros e filmes eles são irresistíveis), na maior parte do tempo gosto de me manter afastada de qualquer tipo de problema, mas juro que tirando esses pontos não achei o cara assim tão incompreensível. Quero dizer, preciso conversar com mais gente sobre esse livro para saber se tenho algum tipo de problema, mas achei que o grande problema da relação deles é Abby e não Travis.
Ler esse livro foi uma experiência muito boa. Acho que a autora teve uma grande sacada porque embora os tipos constantes no enredo não sejam exatamente novos –
- mocinha 'certinha/problemática' que se apaixona pelo cara mal: confere ✓
- cara mal, de temperamento controlador, apaixona-se por mocinha e muda: confere ✓
- melhor amiga para todas as horas que está sempre disposta a defender a protagonista: confere ✓
- amigo gay, carregado de tiradas ironicas e pronto para dar o ombro quando a mocinha briga com o amado: confere ✓
- amigo-estepe que está sempre rondando a primeira oportunidade de roubar a mocinha para si: confere ✓
- universidade/escola lotada de gente pronta para espalhar boatos: confere ✓
- o modo como ela trabalhou as situações foi muito interessante! É um livro que tem ótimos ganchos de um capitulo pro outro, do tipo que você quase sofre para parar de ler porque PRECISA saber o que acontecerá a seguir.
Eu adoro quando uma historia consegue me envolver assim, me faz sentir amor e ódio extremo pelos personagens, me envolve ao ponto de eu querer entrar na história para mudar algumas atitudes – achando que isso poderia melhorar as coisas – e me faz pensar sobre a vida.
Me preocupa que alguns achem que tenho algum problema por não achar o comportamento controlador-obsessivo de Travis um problema (ufa, respira!), mas não é exatamente isso. Eu acho isso bizarríssimo e concordo com o que uma personagem diz a Abby sobre ele, sobre codependencia. Sim, o relacionamento deles não é nem de longe saudável. E talvez Travis não perceba isso, mas Abby sabe. E essa é a questão. Acho que quando estamos numa relação onde podemos ver todos os problemas e ainda assim aceitamos as coisas, não há espaço para indagações. Eu também sou muito objetiva. Acho que, em se tratando de relacionamentos amorosos, muitas convicções, muitas pré-definições, não valem de nada porque quem pode nivelar sentimentos? E a coisa mais idiota sobre minha personalidade, que é quase um paradoxo após meu discurso de objetividade, é que eu acredito que O AMOR TUDO PODE. Juro, acho que quando se ama não há erros. Não há certo e errado. Acho que a gente pode e DEVE fazer todo possível para ficar com quem se ama (bem, exceto matar, matar a gente não pode nunca) e não importa o que os outros digam, se a coisa parece errada, se parece um trem prestes a descarrilar, se parece impulsivo, sem futuro, sem noção. Se você ama (ou acha que ama) acho que deve ir viver esse amor e deixar que a vida se encarregue do resto.
Não é que eu seja uma desvairada qualquer em nome do amor. Não concordo com muitas coisas no comportamento de Travis. Meu (mínimo) lado feminista grita com algumas atitudes dele, mas acho que se o comportamento dele é tão reprovável, Abby deveria se encarregar de mudá-lo – como ela acredita ser capaz de fazer, afinal que mulher não se comove diante de um homem implorando para ser salvo? (cof). Ele é controlador, mas só porque ELA se deixa controlar! Então não aceito esse discurso pseudofeminista de 'ah, ele oprime a coitada' ORAS! Coitada de mim, tendo que ler isso! Ela faz o que ele quer porque QUER! Ele NUNCA pôs uma arma no pescoço dela e a coagiu a fazer algo. Fico enfurecida com a irritante mania de Travis de bater em todo cara que se aproxima de Abby (ou ao menos ameaçá-los para que eles nunca mais tenham vontade de olhar na direção dela) – e esse lado agressivo dele é o que eu menos tolero e ainda assim não fico de graça, levantando bandeira e fazendo discurso sobre igualdade entre os sexos.
Mas a verdade é que a maior parte do tempo achei a relação deles muito fofa. Quer dizer, na sinopse e em tudo que li, nunca vi mencionarem que mesmo vivendo um relacionamento conturbado os dois ficaram amigos – de verdade – antes de tudo. Claro que nunca imaginei que Travis estivesse bem intencionado a princípio, mas o que quer que o tenha levado a isso, o relacionamento inicial deles é muito bonitinho, existe um companheirismo, um carinho, uma preocupação, que me deixou comovida. E isso também torna tudo muito interessante porque mesmo enquanto amigos – porque Abby cisma que não pode ficar com ele, mesmo querendo – fica obvio que eles sentem essa atração e precisam ficar juntos e toda essa tensão acumulada deixa tudo empolgante.
Então, eu realmente gostei da narrativa e de como a autora desenvolveu a história dos dois. Não digo que acho certo ou
aprovo as atitudes de Trav ou Abby, mas acho que o modo como as coisas foram desenvolvidas
e resolvidas deram uma
unidade e combinaram com a proposta do enredo. Além disso, o livro é muito dinâmico e você não consegue ficar cansado porque a cada capitulo uma novidade aparece e a única coisa que você acaba precisando é de mais. Então, se você ainda não leu, LEIA assim que conseguir porque o livro é muito bom.
* Selo MAIOR RESENHA do blog de todos os tempos*