Eu Li: Coleção Como Lidar - Os Encontros (The Ladybird Book of Dating)

Continuando com mais um livro da coleção Como Lidar, lançada aqui no Brasil pela Intrínseca. Eu já falei sobre outros dois livros (O Hipster e A Ressaca) da série e para ver a senha é só clicar aqui. O livro segue a mesma linha sarcástica/engraçadinha com ilustrações clássicas dos livros infantis. 

Pela minha pequena pesquisa, esse foi o último livro da primeira parte da série lançado lá fora - atualmente ela já conta com 11 livros e a Intrínseca lançou 5 livros nesta primeira leva. Os livros não precisam ser lidos em nenhuma ordem especifica, visto que cada um discute um tema e você pode ler os que mais se identifica.

Eu já havia gostado bastante de A Ressaca e O Hipster, e li Os Encontros assim que o carteiro entregou o pacote aqui em casa. Devo dizer que por enquanto, é meu favorito - talvez por tratar de um tema tão universal e acho que neste livro as situações são exemplificadas e parodiadas tão bem que não importa o lugar do mundo, a gente percebe que, em se tratando de dates, as coisas são muito do mesmo em qualquer lugar.

Gostei que o livro faz exemplos com vários tipos de encontros e eu gostei muito das abordagens comentadas. Algumas são bem próximas a nossa realidade #quemnunca e apesar do livro ter toda essa identidade visual de algo dos anos 50/60 as situações comentadas são muito atuais e esse paradoxo, além de divertido, nos faz pensar bastante sobre alguns dos casos - sério mesmo!
Roberta vai sair com Igor pela quinta vez. Mas ele não aparece, e ela fica triste. Igor, manda uma mensagem. Diz que está se sentindo pressionado demais, que ela "liga p/ ele td dia". Roberta percebe que escapou por pouco. Ela valoriza o uso de palavras inteiras.
#hahaha
Como não poderia deixar de ser, todo esse sarcasmo também chega àquele momento em que alguma das situações se torna estranha demais mesmo considerando que o livro é justamente uma leitura para não se levar a sério - mas eu fiquei encucada! rs

Me diverti bastante com as situações representadas, mas eu senti que esse livro tem um problema de tradução. Eu senti isso enquanto lia logo da primeira vez, então procurei especificamente pela parte que eu acreditava estar traduzida erradamente (ficou fora de contexto e em textos sarcásticos você simplesmente sente isso) e então confirmei minha dúvida. Por sorte, só notei isso em uma parte do livro, então fica só o aviso (se você ler e notar, me avisa aqui nos comentários! rs). Fora esse pequeno errinho de tradução/revisão, é um livro bem divertido e se você está procurando um passatempo, coloque ele na sua lista!

PS.: Gostaria de registrar aqui que os 'outros títulos' listados nas contracapas dos livros como parte da coleção são muito interessantes! Pena que é só zoeira, mas eu acho que são títulos interessantes! #ficadica pra J.A.Hazeley e J.P. Morris! ha ha ha

Eu Li: Destinos e Fúrias (Fates and Furies)

Destinos e Fúrias foi um dos livros que conheci na Turnê Intrínseca deste ano, no dia 09 de abril aqui no Rio de Janeiro e fiquei louca pelo lançamento - que aconteceu oficialmente em maio. Pedi o livro para analise e o livro chegou aqui em casa no final de junho e desde então ele andava na minha cabeceira. Comecei a leitura um tempo depois, mas sem nunca realmente engrenar, e hoje com essa resenha vou tentar explicar meus sentimentos conflitantes e bem paradoxais com essa leitura. A resenha está sem spoilers - até porque um livro dessa complexidade torna impossível dar algum spoiler porque só lendo para entender como ele se desenrola. Fates and Furies foi eleito o melhor livro publicado em 2015 pela Amazon e foi um sucesso absoluto lá fora - conseguindo elogios até do presidente dos EUA, Obama. Eu não sabia de nada disso até a turnê e, na verdade, o que me deixou curiosa mesmo foi o que a editora que falou sobre o livro contou...
O cupido mata alguns com flechas, outros com armadilhas.
O livro é narrado em 3ª pessoa e é 'dividido' em duas partes - destinos/fúrias. Lauren Groff fez uma construção muito interessante nessa narrativa porque a parte Destino é narrada sob a perspectiva de Lotto, o nosso protagonista masculino e a parte Fúria, sob a ótica de Mathilde. Lotto e Mathilde são o casal protagonista que conhecemos com a leitura. Eles se conhecem no fim da faculdade e se casam num desses surtos de paixão pós-adolescente (acabei de inventar isso, eu sei) apenas duas semanas depois do primeiro encontro. E durante todo o livro acompanhamos não só o desenrolar do casamento deles como também o início da vida e o que os levou àquele momento - e acreditem, o modo como os acontecimentos da vida deles antes mesmo de conhecerem afeta todo o andamento da relação é incrível - assustador, empolgante e que faz pensar.
Em quase todas as pessoas que já tinham passado pelo mundo, havia pelo menos uma pequena lasca de maldade. Nele não havia nenhuma: ela soube disso quando o viu em pé no peitoril da janela [...] Sua avidez, sua profunda bondade, essas eram as vantagens do privilegio dele.
Como eu disse no início, demorei bastante para concluir a leitura, mas não porque achei o livro ruim, só não consegui entrar na vibe dele assim de cara porque é um livro muito complexo e eu tenho dificuldades de concentração quando a leitura me exige muito (olha eu confessando minha ignorância). O fato é que comentei bastante sobre ele no Twitter nos momentos em que estava lendo porque por vezes eu estava achando a história intrincada demais e isso estava derretendo meu cérebro e me fazendo sentir burra - e me deprime muito quando um livro me deixa assim. Esse foi um dos motivos por eu não ter engrenado de vez na leitura, porque eu tentava mas a trama é bem densa e eu simplesmente não consegui me conectar com a história a ponto de querer ler sem parar - e a grande ironia é que o livro é famoso justamente por ser empolgante e fazer você querer ler e descobrir tudo de uma vez. Destinos e Fúrias é bem complexo e isso exige certa disposição do leitor - e talvez eu simplesmente não estivesse disposta (usar simplesmente nessa resenha é tão estranho... Esse livro não tem nada de simples ou nenhum derivado ou sinônimo disso), mas recomendo fortemente que você esteja com disposição e tenha dedicação pra encarar essa trama, porque ela é bem interessante.

Apesar de ser narrado em terceira pessoa, o livro penetra bem na mente dos personagens - principalmente os protagonistas-foco - e isso nos faz entender bem suas motivações e suas experiencias. A parte de Lotto narra toda sua vida, desde que nasceu, a infância, adolescência, a vida adulta, de casado, de fracassado, de famoso, feliz, furioso.... Enfim, todos os altos e baixos da vida como nós bem conhecemos. Lotto é como uma garoa, ele tem algo de bom e de puro. Algo que facilmente nos identificamos - tanto de ego inflado, um pouco de insegurança. O tipo de coisa que todos temos dentro de nós. A parte de Mathilde também faz isso, embora de forma mais incisiva, sem tantos entremeios e confesso que foi quando comecei a parte Fúrias que meu apreço pelo livro ganhou pontos e comecei a ficar mais empolgada com a leitura. Mathilde é um furação. Mas a gente só conhece isso lendo a parte dela - e confesso que gosto muito da personalidade dela (e até me identifico, por mais inusitado que isso possa parecer) porque me lembra um pouco algumas protagonistas da Gillian Flynn. De fato o livro é narrado de forma diferente em suas duas partes, mas principalmente, a história de Lotto e Mathilde, embora conjunta em grande parte da vida deles, tem muitas particularidades - tanto antes quando durante - que tornam nossa experiencia de leitura diferente.
Grandes faixas de sua vida eram espaços em branco para seu marido. O que ela não lhe contava contrabalançava ordenadamente o que lhe contava. No entanto, há inverdades constituídas de palavras e inverdades constituídas de silêncio, [...]
O que mais gostei na parte de Fúrias é que é nela que realmente paramos para questionar diversos pontos de um relacionamento e notamos como aquela máxima de 'toda história tem dois lados' realmente faz todo sentido. No início do livro, quando lemos tudo pela visão de Lotto a gente tem uma ideia sobre aquela relação, até mesmo sobre as pessoas que os rodeiam, mas é lendo a parte de Mathilde que faz tudo isso tomar uma nova perspectiva (porque é realmente outra) e começamos a ver que existe um quebra-cabeças bem maior do que aquele que julgamos ter montado. Não sei se vocês estão conseguindo entender o que quero dizer com essa resenha, mas esse livro me lembrou muito um trecho que conheci e sempre gostei muito em outro livro, que também foi lançado pela Intrínseca, 'Esposa 22': "Ingredientes para um casamento feliz: 1 xícara de gentileza, 2 xícaras de gratidão, 1 colher de chá de elogios diários, 1 segredo muito bem guardado." E é sério, lendo esse livro você nota que isso é realmente verdade e faz todo o sentido em um relacionamento.

A partir de Fúrias todo um novo ambiente, um novo enredo se abre a nossa frente e isso é bem incrível de se notar porque a gente percebe que esses dois lados da história podem ser bem diferentes e revelar aspectos até então, inesperados. É um livro capaz de agradar um leitor exigente - e de fazer pensar muito (e sofrer?) um leitor menos acostumado a esse tipo de densidade, mas como eu disse, você precisa encarar a leitura, se dedicar, pra poder curtir e entender todas as propostas feitas pela autora durante a narrativa.
Diablese, era como chamavam você [...] Ou ele não está aí, ou você aprendeu a dissimular como todos os bons diabos
— Talvez viver com medo expulse todos os diabos da pessoa - disse ela. — Exorcismo por terror.
Meu sentimento final em relação a esse livro é paradoxal porque mesmo no final da leitura eu ainda me perguntava se seria um livro que eu iria querer manter na estante ou passaria pra frente (pra outra pessoa conhecer), e decidi que vou mante-lo por perto, pelo menos por algum tempo, porque ele tem algumas ideias muito boas sobre relações e eu sou uma verdadeira entusiasta das relações humanas! Me encanta, me inebria, adoro saber do assunto, estudar sobre ele, ler sobre ele e por isso posso dizer que conseguir terminar esse livro foi uma vitória e uma felicidade - porque me senti bem por concluir algo que foi tão desafiador para mim.

Se eu recomendo a leitura? Claro! Mas esteja disposto. E saiba que esse livro é denso e vai exigir um pouco mais de você. Ele tem algo de poético (Lotto tem sua fase dramaturgo e os trechos de suas peças representam bem esse lado) e também algo de áspero. Enfim, é uma leitura que você vai encontrar muita coisa e se você estiver disposto a aproveitar, vai aproveitar (ou aprender muito).

Agora, pra finalizar, eu só gostaria de fazer um pedido: você que leu essa resenha e leu este livro POR FAVOR me explique aquele final! Eu fiquei louca quando vi que não restava mais nenhum capítulo, eu já estava nos agradecimentos da autora e tinha terminado daquele jeito! Me senti a Hazel com o fim de Uma Aflição Imperial. Sério. Eu preciso saber o que aconteceu depois. Não entendi bem todo aquele último capitulo! rs