Eu Li: Destinos e Fúrias (Fates and Furies)

Destinos e Fúrias foi um dos livros que conheci na Turnê Intrínseca deste ano, no dia 09 de abril aqui no Rio de Janeiro e fiquei louca pelo lançamento - que aconteceu oficialmente em maio. Pedi o livro para analise e o livro chegou aqui em casa no final de junho e desde então ele andava na minha cabeceira. Comecei a leitura um tempo depois, mas sem nunca realmente engrenar, e hoje com essa resenha vou tentar explicar meus sentimentos conflitantes e bem paradoxais com essa leitura. A resenha está sem spoilers - até porque um livro dessa complexidade torna impossível dar algum spoiler porque só lendo para entender como ele se desenrola. Fates and Furies foi eleito o melhor livro publicado em 2015 pela Amazon e foi um sucesso absoluto lá fora - conseguindo elogios até do presidente dos EUA, Obama. Eu não sabia de nada disso até a turnê e, na verdade, o que me deixou curiosa mesmo foi o que a editora que falou sobre o livro contou...
O cupido mata alguns com flechas, outros com armadilhas.
O livro é narrado em 3ª pessoa e é 'dividido' em duas partes - destinos/fúrias. Lauren Groff fez uma construção muito interessante nessa narrativa porque a parte Destino é narrada sob a perspectiva de Lotto, o nosso protagonista masculino e a parte Fúria, sob a ótica de Mathilde. Lotto e Mathilde são o casal protagonista que conhecemos com a leitura. Eles se conhecem no fim da faculdade e se casam num desses surtos de paixão pós-adolescente (acabei de inventar isso, eu sei) apenas duas semanas depois do primeiro encontro. E durante todo o livro acompanhamos não só o desenrolar do casamento deles como também o início da vida e o que os levou àquele momento - e acreditem, o modo como os acontecimentos da vida deles antes mesmo de conhecerem afeta todo o andamento da relação é incrível - assustador, empolgante e que faz pensar.
Em quase todas as pessoas que já tinham passado pelo mundo, havia pelo menos uma pequena lasca de maldade. Nele não havia nenhuma: ela soube disso quando o viu em pé no peitoril da janela [...] Sua avidez, sua profunda bondade, essas eram as vantagens do privilegio dele.
Como eu disse no início, demorei bastante para concluir a leitura, mas não porque achei o livro ruim, só não consegui entrar na vibe dele assim de cara porque é um livro muito complexo e eu tenho dificuldades de concentração quando a leitura me exige muito (olha eu confessando minha ignorância). O fato é que comentei bastante sobre ele no Twitter nos momentos em que estava lendo porque por vezes eu estava achando a história intrincada demais e isso estava derretendo meu cérebro e me fazendo sentir burra - e me deprime muito quando um livro me deixa assim. Esse foi um dos motivos por eu não ter engrenado de vez na leitura, porque eu tentava mas a trama é bem densa e eu simplesmente não consegui me conectar com a história a ponto de querer ler sem parar - e a grande ironia é que o livro é famoso justamente por ser empolgante e fazer você querer ler e descobrir tudo de uma vez. Destinos e Fúrias é bem complexo e isso exige certa disposição do leitor - e talvez eu simplesmente não estivesse disposta (usar simplesmente nessa resenha é tão estranho... Esse livro não tem nada de simples ou nenhum derivado ou sinônimo disso), mas recomendo fortemente que você esteja com disposição e tenha dedicação pra encarar essa trama, porque ela é bem interessante.

Apesar de ser narrado em terceira pessoa, o livro penetra bem na mente dos personagens - principalmente os protagonistas-foco - e isso nos faz entender bem suas motivações e suas experiencias. A parte de Lotto narra toda sua vida, desde que nasceu, a infância, adolescência, a vida adulta, de casado, de fracassado, de famoso, feliz, furioso.... Enfim, todos os altos e baixos da vida como nós bem conhecemos. Lotto é como uma garoa, ele tem algo de bom e de puro. Algo que facilmente nos identificamos - tanto de ego inflado, um pouco de insegurança. O tipo de coisa que todos temos dentro de nós. A parte de Mathilde também faz isso, embora de forma mais incisiva, sem tantos entremeios e confesso que foi quando comecei a parte Fúrias que meu apreço pelo livro ganhou pontos e comecei a ficar mais empolgada com a leitura. Mathilde é um furação. Mas a gente só conhece isso lendo a parte dela - e confesso que gosto muito da personalidade dela (e até me identifico, por mais inusitado que isso possa parecer) porque me lembra um pouco algumas protagonistas da Gillian Flynn. De fato o livro é narrado de forma diferente em suas duas partes, mas principalmente, a história de Lotto e Mathilde, embora conjunta em grande parte da vida deles, tem muitas particularidades - tanto antes quando durante - que tornam nossa experiencia de leitura diferente.
Grandes faixas de sua vida eram espaços em branco para seu marido. O que ela não lhe contava contrabalançava ordenadamente o que lhe contava. No entanto, há inverdades constituídas de palavras e inverdades constituídas de silêncio, [...]
O que mais gostei na parte de Fúrias é que é nela que realmente paramos para questionar diversos pontos de um relacionamento e notamos como aquela máxima de 'toda história tem dois lados' realmente faz todo sentido. No início do livro, quando lemos tudo pela visão de Lotto a gente tem uma ideia sobre aquela relação, até mesmo sobre as pessoas que os rodeiam, mas é lendo a parte de Mathilde que faz tudo isso tomar uma nova perspectiva (porque é realmente outra) e começamos a ver que existe um quebra-cabeças bem maior do que aquele que julgamos ter montado. Não sei se vocês estão conseguindo entender o que quero dizer com essa resenha, mas esse livro me lembrou muito um trecho que conheci e sempre gostei muito em outro livro, que também foi lançado pela Intrínseca, 'Esposa 22': "Ingredientes para um casamento feliz: 1 xícara de gentileza, 2 xícaras de gratidão, 1 colher de chá de elogios diários, 1 segredo muito bem guardado." E é sério, lendo esse livro você nota que isso é realmente verdade e faz todo o sentido em um relacionamento.

A partir de Fúrias todo um novo ambiente, um novo enredo se abre a nossa frente e isso é bem incrível de se notar porque a gente percebe que esses dois lados da história podem ser bem diferentes e revelar aspectos até então, inesperados. É um livro capaz de agradar um leitor exigente - e de fazer pensar muito (e sofrer?) um leitor menos acostumado a esse tipo de densidade, mas como eu disse, você precisa encarar a leitura, se dedicar, pra poder curtir e entender todas as propostas feitas pela autora durante a narrativa.
Diablese, era como chamavam você [...] Ou ele não está aí, ou você aprendeu a dissimular como todos os bons diabos
— Talvez viver com medo expulse todos os diabos da pessoa - disse ela. — Exorcismo por terror.
Meu sentimento final em relação a esse livro é paradoxal porque mesmo no final da leitura eu ainda me perguntava se seria um livro que eu iria querer manter na estante ou passaria pra frente (pra outra pessoa conhecer), e decidi que vou mante-lo por perto, pelo menos por algum tempo, porque ele tem algumas ideias muito boas sobre relações e eu sou uma verdadeira entusiasta das relações humanas! Me encanta, me inebria, adoro saber do assunto, estudar sobre ele, ler sobre ele e por isso posso dizer que conseguir terminar esse livro foi uma vitória e uma felicidade - porque me senti bem por concluir algo que foi tão desafiador para mim.

Se eu recomendo a leitura? Claro! Mas esteja disposto. E saiba que esse livro é denso e vai exigir um pouco mais de você. Ele tem algo de poético (Lotto tem sua fase dramaturgo e os trechos de suas peças representam bem esse lado) e também algo de áspero. Enfim, é uma leitura que você vai encontrar muita coisa e se você estiver disposto a aproveitar, vai aproveitar (ou aprender muito).

Agora, pra finalizar, eu só gostaria de fazer um pedido: você que leu essa resenha e leu este livro POR FAVOR me explique aquele final! Eu fiquei louca quando vi que não restava mais nenhum capítulo, eu já estava nos agradecimentos da autora e tinha terminado daquele jeito! Me senti a Hazel com o fim de Uma Aflição Imperial. Sério. Eu preciso saber o que aconteceu depois. Não entendi bem todo aquele último capitulo! rs

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