Assim que a Intrínseca anunciou o lançamento de outro livro da Jojo por aqui fiquei empolgada. A Última Carta de Amor foi meu romance favorito do ano passado e nesses casos, aposto que o autor vai me agradar em outros trabalhos. Como Eu Era é um livro com uma história diferente de tudo que eu já havia lido – ou imaginado.
Louisa Clark é uma inglesa de vinte e seis anos que acaba de perder o único emprego que teve durante a vida. Ela vive com os pais, o avô, a irmã e o sobrinho, tem um namorado há quase tanto tempo quanto tinha o emprego e nunca pensou o que faria da vida caso fosse despedida da cafeteria em que trabalhava. Mas agora ela precisa urgentemente de outra ocupação porque precisa ajudar os pais com as despesas da casa, mas não há muito que saiba – ou esteja qualificada para – fazer. Will Traynor é um jovem empresário que após um acidente muito grave, acabou parando numa cadeira de rodas, com tetraplegia. Will não aceita a condição que lhe foi imposta e já tentou cometer suicídio diversas vezes, então sua mãe precisa contratar alguém para ficar de olho nele – e que, quem sabe, possa dar alguma expectativa a ele. O trabalho de Lou com Will é basicamente fazer companhia e atender as necessidades dele. Ele também tem um enfermeiro que cuida das partes relacionadas a saúde e higiene, mas que não passa todo o período do dia com eles. Logo que chega, Lou percebe que será difícil se aproximar porque Will tem um gênio muito difícil. É taciturno, arrogante e o fato de não aceitar sua condição só complica tudo.
Eu costumo ler os livros sem olhar sinopse e quando se trata de livros que gosto do autor, isso é ainda mais irrelevante. Começo a leitura sem saber nada e com a expectativa de ter uma leitura agradável, que me faça lembrar porque gostei daquele escritor. Então, fiquei bem surpresa ao descobrir que essa história seria sobre um cara tetraplégico e uma mulher de mais de 26 anos que encontra-se sem expectativas. Quero dizer, o tempo de vida e as coisas que temos que fazer nela sempre me preocupa e me sinto bem pressionada com essa contagem regressiva (ok, parei com minhas neuras).
Eu realmente fiquei abalada com a condição de Will porque nunca havia lido algo assim e para mim é muito triste imaginar alguém preso a uma cadeira da forma que ele ficou. Já convivi com paraplégicos mas tetraplegia é outro nível, outras limitações e eu mal consigo imaginar como deve ser ruim – ainda mais quando essa pessoa era tão proativa. Quero dizer, é o tipo de problema que você fica completamente dependente de outra pessoa para tudo e pensar em passar a vida assim é realmente devastador.
Às vezes parecia até um alívio para ele que houvesse alguém preparado para tratá-o mal, contradizê-lo ou alertá-lo para o fato de que estava sendo desagradável. Eu tinha a sensação de que, desde o acidente, todo mundo andava na ponta dos pés ao redor dele, exceto talvez Nathan, a quem Will parecia tratar com um respeito maquinal. [...] Nathan era um veiculo blindado em forma de homem.
O livro é narrado em 1ª pessoa pela Lou, então conseguimos ter uma ideia bem clara dos sentimentos dela e do desenvolvimento de sua relação com Will e seu crescimento. Também gostei muito de como todo o enredo em volta deles é verossímel. A família de Lou está sempre presente, eles passam dificuldades de convivência, tem problemas com orçamento e todo o tipo de problema que uma família atual realmente tem, mas que geralmente fica em segundo plano em livros. Isso me aproximou bem dos personagens.
Ocasionalmente, temos partes narradas por outros personagens e gostei de ter outra visão dos acontecimentos, ficou bem interessante. Gostei de como a autora desenvolveu a relação dos protagonistas, de uma forma tão intensa e ao mesmo tempo sensível. O livro se passa num período de 6 meses e acho que a evolução da relação deles foi marcada de forma suave e ao mesmo tempo, objetiva. É um livro que não tem uma história convencional e o romance entre os protagonistas também não é. É uma história de aprendizado, sobre a vida e suas possibilidades, sobre duas pessoas que precisavam se encontrar para ajudar uma a outra. E é lindo perceber isso.
Gostaria de saber onde Jojo tirou a ideia para essa história porque é algo tão possível (tipo, acontece por aí) e mesmo assim nunca havia lido algo do tipo... Não é um livro sobrenatural e tem uma das histórias mais inusitadas e emocionantes que já li. Eu geralmente recomendo leituras para todos os momentos, mas sinto que esse não é o tipo de livro que qualquer um consegue gostar. Ele é bem linear e segue uma proposta bem definida, mas não tem uma história bonitinha, fofa. Ele tem um romance bem inconvencional, que é expresso de forma bem sutil. Então, devo alertar que se você for ler esperando um grande envolvimento amoroso, beijos ardentes e demostrações de que 'o amor tudo supera' é melhor ter em vista que não é esse o foco. Recomendo a leitura se você gosta de histórias que passam mensagens sobre a vida (boa, ruim, cheia de altos e baixos) e se você precisa de um pouco de 'visão de mundo'. É uma história comovente, muito envolvente e com uma mensagem sobre ambição que é realmente legal.
E eu gosto de marcar aqui, porque é raro que isso aconteça... Eu chorei com esse livro. Chorei muito. Chorei de soluçar, de chamar atenção pela casa (ainda bem que estava em casa). Chorei porque fiquei emocionada demais, me envolvi demais com os personagens e com os acontecimentos, e tem algumas situações que só são ultrapassadas depois de derramar um pouco de lágrimas. Eu gosto quando um livro me faz pensar em outras possibilidades, em coisas que eu poderia fazer, e enquanto lia Como Eu Era senti isso em vários momentos. Eu meio que já esperava que Jojo fosse me emocionar, mas realmente, não imaginei que seria assim. É muita emoção pro meu coração.