Eu Li: A Casa das Marés (Foreign Fruit)

A Casa das Marés foi um dos lançamentos mais recentes da Intrínseca, para completar a coleção Jojo Moyes, mas originalmente se trata do segundo livro da carreira dela (lá em 2003). Como dessa autora, eu sempre quero ler TUDO que é lançado dela, e fiz questão de pedir o livro para ler e resenhar. Confesso, não foi uma leitura que me pegou de primeira, e eu demorei pra engrenar na leitura, no entanto, depois que consegui me afeiçoar à trama e a toda a riqueza que esses personagens carregam, foi uma questão de páginas pra eu não conseguir mais largar o livro! Talvez você também passe por isso, ou já tenha lido algo sobre o livro e não se sentiu muito animado para ler, mas por favor, leia essa resenha e saiba porquê você DEVE dar uma chance para A Casa das Marés.

O livro começa numa cidadezinha litorânea, Merham lá pela década de 50. Em Merham conhecemos Lottie e Celia, duas jovens curiosas pelo que a vida tem a oferecer (nossa, parece comercial ruim de Sessão da Tarde... vou melhorar), Celia é a filha mais velha da família Holden e Lottie é uma menina que o Dr. e a Sra. Holden acolheram e passou a viver com eles. As duas são melhores amigas, tipo irmãs mesmo, embora tenham pensamentos bem distintos a respeito da vida. Merhan é uma dessas cidades onde todos se conhecem e a vida alheia acaba sendo assunto de debate entre a comunidade. Tudo é muito tradicional, pacato, sem graça, mas a cidade muda quando um casal de artistas se muda para uma casa a beira-mar. Poderia ser só um casal de vizinhos normais, mas a cidade fica meio em polvorosa (há) com eles, que nunca estão sozinhos na casa, moram com outros amigos e passam a viver nesta casa que estava abandonada, mas que foge até da arquitetura tradicional da cidade, a Casa Arcádia. É tudo muito exótico para a pacata vizinhança local, mas claro, desperta a curiosidade das jovens Celia e Lottie. As duas logo fazem amizade com todos que vivem na casa e essa amizade...

Convivendo com esse pessoal tão exótico moderno, as duas logo acabam se envolvendo num escândalo e com isso, Celia é mandada para outra cidade #babado. Mas Celia volta noiva de um rapaz, Guy Bancroft, e é então que os problemas entre Lottie e Celia começam... Celia é uma personagem difícil de gostar, porque ela parece esse tipo de menina boba, que só quer aparecer, super preocupada com as aparências, e que parece que tem uma amiga só pra ter alguém para quem contar vantagem. Já a jovem Lottie é um pouco mais fácil, pelo menos sentir compaixão, porque ela tem toda a questão do abandono da mãe, o fato de se sentir desajustada e bem, ela é amiga de Celia, Se isso já não faz qualquer pessoa ganhar pontos, eu nem sei... Não amei Lottie assim que a conheci, mas no decorrer do livro e acompanhando tudo que ela enfrenta, é uma personagem de que me orgulho muito.
... Lottie não se ofendera. Era difícil ser ofendida por alguém de quem sente pena.
Depois chegamos aos dias atuais (!) e conhecemos Daisy Parsons. Daisy está recém separada de seu marido e pai-da-sua-filha-recém-nascida e passando por esse turbilhão em sua vida pessoal, recebe a proposta de reformar a Casa Arcádia. Ela e o marido tinham essa empresa de reformas e depois que ele a abandonou, restou a ela a incumbência de realizar o projeto contratado. Então Daisy se muda para Merham com a filha e quando a obra na casa começa, as coisas vão se revelando e nós vamos encontrando as conexões entre essas duas realidades, separadas por meia década.

Era a coisa que nunca contavam sobre separações: você perdia a pessoa com quem geralmente fazia todos aqueles comentários mais ou menos interessante que colecionava ao longo do dia.

Eu gostaria de escrever uma resenha bem detalhada e contar tudo o que a trama tem, mas isso estragaria a história para quem não leu, então vou me concentrar no que a trama me fez sentir. O livro é separado em 3 partes. Na 1ª, temos a parte dos anos 50, na 2ª os dias atuais e também é quando começamos a ver as conexões e isso é muito incrível. Eu chamo esse tipo de livro da Jojo (que começa no passado e chega no presente) de 'o velho estilo da Jojo' - não porque seja realmente velho, mas porque sinto que esse é um modo que ela gosta de basear suas tramas - acho que ela só mudou isso em Como Eu Era Antes de Você. E eu sempre fico surpresa (não deveria, mas ainda fico) em ver como eu consigo me apegar às tramas que se passam no passado do modo que ela escreve e consegue unir as realidades. Como eu disse, no começo não estava conseguindo me conectar muito bem com os personagens, mas conforme fui lendo, entendendo aquela realidade (lá nos anos 50...) e depois vendo onde tudo aquilo ia se conectar, foi mágico!
Devia ter seguido sua intuição: nos negócios, não havia hora ruim. Se você é profissional, vai em frete e faz o trabalho. Sem desculpas, sem rodeios.
A Casa das Marés é um livro realmente lindo porque ele fala sobre família e esse tipo de enredo sempre me deixa emocionada. No inicio, a gente se emociona m ver como Lottie se sente um pouco deslocada dentro daquela família, que a acolheu, mas parece que não totalmente. Ela é grata, mas tem aquele sentimento de não-pertencimento, não só a família Holden, mas a toda a vizinhança de Merhan. Depois ela tem que lidar com sua (ex) melhor-amiga namorando o cara que ela achou ser feito para ela e então todas as consequências que isso causa nas vidas de todos. E temos Daisy, que esta destruída com o fim de seu casamento, mas que precisa seguir em frente. E tem as famílias de Merham, que foram afetadas direta ou indiretamente com os acontecimentos na época dos artistas na Casa Arcádia e ver como tudo isso se desenvolve é realmente um deleite.

O livro toma um rumo bem surpreendente e eu fiquei emocionada - e até um pouco chocada - com o modo como Jojo Moyes conduziu alguns finais da trama. Acho que quando lemos um romance, temos sempre aquela idealização de que as coisas vão ser lindas e ter um FINAL feliz, e não me entendam mal, não é que o final seja triste ou nada assim, é só que ela deu um final tão... VIDA, que eu fiquei surpresa porque, mesmo a leitura tendo uma trama bem #realidades, eu esperava um final bem diferente do que o que li, mas ainda assim, quando terminei o livro, foi com aquela sensação de que o final foi perfeito, porque ele foi o IDEAL, mas não dessa forma idealizada que costumamos formar. É um dos livros mais emocionantes que li dela, de modo geral, por tudo que a trama contém, toda a bagagem emocional e toda a história dos personagens. Ele também me lembrou um dos meus livros favoritos dela: A Garota que Você Deixou para Trás, não pela parte atual, mas porque a parte do passado me deixou realmente comovida.
— Não faz sentido ficar presa ao passado, com ou sem filha. Você tem que construir sua própria vida.
Se você tem esse livro e ainda não leu ou se o viu numa livraria e não ficou certo se deveria dar uma chance, eu te garanto que você não vai se arrepender. Talvez não seja um livro que você vá se apaixonar pela trama de cara, mas não desista e continue lendo porque se você gosta de tramas bem intrincadas, cheias de reviravoltas, segredos, revelações, com essa pegada a-vida-como-ela-pode-ser, tenho certeza que você vai se apaixonar e amar a leitura, assim como eu