Um Homem de Sorte é o terceiro livro do Nicholas Sparks que leio e achei que tem uma temática diferente da qual ele costuma abordar e isso me surpreendeu (afinal Sparks não é só amores impossíveis e mortes eminentes). O livro é narrado em 3ª pessoa sob a perspectiva de três personagens: Thibault, Clayton e Beth.
Assim que comecei a leitura percebi que não ia gostar de Clayton e fiquei até desanimada com medo de que ele fosse o protagonista – porque ele é odioso (e eu não leio sinopse). Mas nosso protagonista e personagem-título é Thibault. Logan Thibault é um ex-fuzileiro naval que esteve em combate no Iraque e após encontrar uma misteriosa foto no meio do deserto, que os colegas acreditavam dar sorte a ele, resolve ir em busca da mulher na foto.
Acontece que toda a história é inusitada (e estranha, esquisita, bizarra) demais, já que ele resolve sair do Colorado a pé até a Carolina do Norte (mais de 2 mil quilômetros)! A tal peregrinação do nosso protagonista dura uns três meses e nessa longa viagem em busca da terra do nunca ops, da mulher misteriosa, ele só conta a companhia de seu inseparável cão amigo Zeus. Zeus é um personagem importante na história, um pastor alemão super bem treinado e que me fez desejar ter treinado meus cachorros para serem como ele! Ele é inteligente, amistoso, leal e ainda serve como cão de guarda!
Apesar de toda a natureza inusitada (a caminhada atravessando o país e tal), Logan é um personagem adorável, muito sincero, honesto, e o livro, depois que você começa a conhecer a historia dos personagens, flui muito bem. Eu também gostei bastante de Beth, ela é uma mulher jovem, mas que tem um filho pequeno e uma série de relacionamentos fracassados e ainda assim consegue ser bem espirituosa e forte para lidar com as situações que precisa enfrentar. Também gostei muito de Nana, a avó de Beth, que teve um AVC recentemente, mas é super ativa e tem uma forma de comunicação bem diferente, utilizando metáforas bem diferenciadas.
Nana era teimosa. E daí se a perna esquerda mal suportava o peso de seu corpo? "Minha perna esquerda não é perfeita mas também não é de cera." Ou que ela pudesse cair e se machucara? "Não sou um vaso de porcelana." Ou que seu braço esquerdo estava basicamente inútil? "Contanto que eu consiga tomar sopa, não preciso mesmo dele."
No início foi difícil simpatizar com os personagens, há bastante narração e pouco diálogo, mas uma coisa posso dizer sobre Sparks: ele construiu boas histórias de fundo para seus personagens. Ele é detalhista em relação a algumas coisas e isso, de certa forma, serve para cativar o leitor. Gostei de como ele criou um background amplo e ainda conseguiu criar algo inusitado, mas consistente o suficiente para se tornar acreditável.
– Não sente necessidade de falar o tempo todo não é?
– Não. - sorriu.
– A maioria das pessoas não sabe apreciar o silêncio. Não conseguem parar de falar.
– Eu falo. Mas primeiro quero ter algo a dizer.
Gostei muito dessa passagem. Acho que Nicholas quer passar essa mensagem porque existe uma passagem parecida em Diário de uma Paixão.
Como em livros do autor, existe um toque de religião e fé na história, mas nesse, de forma mais leve que em 'Um Amor para Recordar'. Eu gostei bastante de como as coisas foram explicadas até mesmo porque ele entra no mérito mais espiritual da coisa (com a coisa da sorte). Mas como não poderia deixar de ser, esse é um livro Nicholas então vocês já devem estar preparados para um final dramático com alguma tragédia e esse particularmente me deixou com muita raiva! Nossa, eu quase tive uma síncope quando cheguei aos momentos finais (gritei, xinguei, falei alto 'Nicholas te odeio para sempre'), mas posso dizer que de modo geral, o livro me surpreendeu positivamente.